terça-feira, 29 de agosto de 2023

LAÇOS DE AMOR

Fui apagar o holofote do portão e enquanto caminhava, podia escutar os acordes do piano executando Debussy. Essa é uma das vantagens de se morar fora dos centros urbanos, afinal, não temos vizinhos tão próximos que possamos incomodar e tão pouco, nos esconder, quando ainda de pijama passeamos pelo terreno, conversando com Deus que, provavelmente estimulado pela magia musical da genialidade humana criada por ele, aparece em formas e aromas diversos se expressando e envolvendo o ambiente, numa bendita paz.

Percebo que simplesmente não posso viver sem estes colóquios amorosos, mais que um hábito, uma necessidade que me garante a manutenção de minha autenticidade na maior parte do tempo, até mesmo, quando, em raras ocasiões, me sentindo invadida pela cruel indiferença humana, faltam-me palavras, geralmente, tão fartas em meu vocabulário e tudo que me vem a cabeça e consequente boca é um palavrão.


Tento, acreditem, policio-me e rogo sistematicamente aos meus parceiros espirituais o devido polimento, mas PQP, quando vejo, já xinguei com a melhor boca do mundo, sentindo logo a seguir, uma deliciosa paz e aí, como sou extremamente respeitosa, geralmente, peço desculpas por reconhecer o não devido, mesmo também reconhecendo que num mundo onde predomina o politicamente correto, não serei desculpada, mas aí, fazer o quê?

Concluo então, que o meu abusador foi tão abusivamente agressivo, muitas vezes por força do hábito quanto a desconsideração, que, afinal, chumbo trocado não dói e se doeu nele, pelo menos, me deixou limpa de raivas e rancores, conservando a minha autenticidade, passaporte seguro para merecer de Deus em todas as manhãs, a sua abençoada presença, inspirando-me.

E olha que nem Deus, ao longo de minha vida, escapou da minha autenticidade, o que acredito, envolveu a nossa parceria em laços do mais puro e sincero amor.

Mas Deus é Deus... 

Sempre acima do que é pequeno e chulo...

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