sábado, 20 de julho de 2019

A MORTE, A VELHICE E O LÚDICO...

A velhice é a forma mais cruel de se enfrentar a proximidade da morte.
A cada dia vencido, lá está ela, firme, latente, nos lembrando de sua presença, levando-nos a buscar ou renovar as esperanças quanto ao dia que virá.
Na velhice, perde-se a extensão de futuro e, como os bêbados e drogados em recuperação, passa-se a viver de vinte e quatro em vinte e quatro horas, mas sem se perder o foco da tenuidade da própria impotência.
A velhice e a morte caminham lado a lado e para que não seja enlouquecedor conviver-se com ela, vendo-a sugar as energias do corpo cada vez mais frágil que nos sustenta, recorremos à mente, mãe condutora do corpo e, como crianças indefesas, nela nos agarramos no frenesi de um náufrago, buscando asilo, através de estímulos para que pelo menos ela em sua notável autonomia, alimente e sustente o restante da matéria, frente a este convívio cruel da velhice que nos mantém presos a laços fortes com a morte.
Fiel amiga, escudeira constante, se bem preparada nos envia a cada instante estímulos, quanto à além morte, alimentando músculos, fortalecendo o corpo numa parceria consoladora.
E criativa como só ela sabe ser, se ao longo da vida foi devidamente alimentada, na velhice se mostra alvissareira, desenhando paraísos consoladores, anjos belos e leves como as espumas a desenharem num céu que se enxerga, mas não se toca, um paraíso de sonhos, expiações e possíveis retornos.
Penso então na grandeza da mente, única capaz de se aliar à morte, promovendo o lúdico, o belo, o inatingível, como recurso único de convivência com a velhice.
Enquanto isso, o corpo se deforma, como lembrete diário da finitude que se aproxima.

NEM PARA ESTERCO HÃO DE SERVIR...

A ruminação é o ato de regurgitar o bolo alimentar à boca, remastigando-o demoradamente, de modo a propiciar maior fragmentação das partícul...