Acordei sem absolutamente nada em minha mente, mas agora, duas horas depois, cá estou me despedindo sem saber exatamente do que ou de quem, mas com o convencimento de que estou por todo o tempo me despedindo seja lá, do que for, nem que seja de um dia de minha vida, já que o ontem se foi e o que perdi, perdido está.
Todavia, se perdi, também algo devo ter ganho. Será que identifiquei com exatidão o que ganhei ou só registrei a perda?
Penso no quanto sou ingrata e isso com certeza, é o responsável pelas seguidas decepções, afinal, que vicio é este em só contabilizar as perdas?
Se me ater cuidadosamente em um só dia, inevitavelmente vou constatar que a perda se houve, foi um detalhe num universo de ganhos preciosos, a começar pelo simples ato em acordar para um novo dia, onde poderei ser e fazer tudo que eu quiser, mas ao invés de reescrever mais um capítulo da minha história, fico me lamentando...
E se eu morrer neste instante, para onde irão minhas perdas e meus ganhos?
Terão utilidade para alguém, como os versos de Neruda, um quadro de Picasso, uma história de Jane Austen, uma canção de Jobim ou um pensamento sábio de um filósofo?
E se nada em mim sou capaz de reconhecer como precioso ganho, que me reste a certeza de ter sido a cada dia, uma criatura que buscou se tornar um pouquinho menos ingrata, reconhecendo que nada é definitivo e que tudo tem a sua importância e sua razão de ser, seja para ganhar ou perder.
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