O CALOR CONTINUA FORTE E SECO, tudo quanto, verdadeiramente a minha natureza estranha e ao contrário do esperado, recolho-me, optando em usar pouca roupa, beber muita água e tomar muitos banhos por dia e aí, mais e mais me falta estar em minha casa, onde é possível, volte e meia eu deixar o chuveirão do quintal, refrescar o corpo e a alma.
Percebo que quanto mais envelheço, mais apegada vou me tornando ao meu cantinho, onde tudo está no lugarzinho que eu coloquei e que mesmo cega, sou capaz de encontrar.
O sofá, a cadeira que escrevo, o colchão, já possuem o molde de meu corpo e a paisagem do céu, está a cada dia despertando e adormecendo comigo, numa fiel parceria, sem se repetir jamais, sempre pronto a me proporcionar surpreendentes brilhos e nuances.
Mas é o cheiro, a textura e os sabores que meu jardim me presenteia incansavelmente e que me embriaga e me domina, fazendo de mim, não uma submissa conformada, mas uma mulher absolutamente plena, na vivência de minhas afinidades.
Um certo dia, meu Roberto, debruçou-se no balcão da cozinha e ficou me olhando em silencio, enquanto eu fazia o almoço e em determinado momento falou, imprimindo em seu rosto uma serenidade que me é impossível esquecer; “obrigada, meu amor por ter sempre transformado nossas casas em lares”.
Depois, caminhou até a mim e me deu aquele beijo delicioso na nuca, absolutamente irresistível, razão maior para eu ter me apaixonado por ele com apenas, 16 aninhos...
Neste domingo, acordei mais uma vez com a certeza absoluta de que a vida sempre foi muito generosa comigo, principalmente, porque só deixou ao meu alcance, o melhor que ela tinha para oferecer.
Bom dia e um domingo de paz para você que me lê.
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