Li este artigo e a minha primeira reação, foi o de querer bater neste senhor que, redigiu o texto, mas logo em seguida, ponderei que o mesmo só escreveu realidades, fatos absolutamente possíveis de serem constatados e vivenciados, sejamos nós, turistas ou moradores.
Algumas dessas afirmativas, foram ao longo de minha permanência de vinte anos, na Ilha de um modo geral, pois, como editora do Jornal Variedades, pude percorrer cada metro quadrado desta que deveria ser, pela pequena extensão de terra, gastronomia, cultura e de um povo acolhedor, o mais belo paraíso do Brasil.
Infelizmente, o Governo do Estado, políticos em geral, só lembram da Ilha, nos períodos eleitorais ou, vez por outra, cedem algumas pequenas verbas, ambulâncias, e neste caso específico, pongando nas distribuições estaduais ou Federais.
Quanto aos Gestores, seguem alguns a mesma linha, utilizando-se de projetos e ações sociais dos Governos, para efetuarem obras, que os olhos possam ver e se empanarem com o nítido descuido na saúde, educação e infraestrutura, como se o a Ilha, se restringisse ao Campo Formoso, Boulevard e imediações.
Portanto, coloco a viola no saco e lamento que, mais uma vez, sejamos alvo de criticas cruéis que a incompetência, a ganância e a estupidez das autoridades, mantém como escudo do atraso.👇👇👇👇👇👇👇👇👇👇👇👇👇
Ponto de Vista: Itaparica
Por Inaldo da Paixão Santos Araújo*
Tribuna da Bahia, Salvador
29/03/2021 00:36
Já que o sol ainda mantém vivas as lembranças das férias, aproveito para comentar sobre a Ilha de Itaparica. Não das suas belezas, há muito desgastadas, mas sim do seu ocaso. Sim, o processo de pauperização é veloz.
O sol, ao se pôr, majestoso, revelou um dos últimos saveiros da Bahia, singrando a Barra Falsa, que separa a Ilha do município de Jaguaripe. Sinto saudades do aprazível banho de mar na "boca da barra".
Ao caminhar, em um final de tarde, pela Ponta da Ilha (trecho entre Berlinque e Cacha-Pregos), questionei-me sobre o porquê da deficiente exploração turística profissional desse maltratado pedaço de paraíso. Ali imperam o descaso e a violência. Lugar paradoxalmente tão perto e tão distante de Salvador.
O arrebol na Ponta dos Garcez, com seus 20 quilômetros de praias desertas e de vasto coqueiral, é inspirador. A natureza, divina, fez com que eu refletisse sobre os motivos do descaso.
Há tempos, li uma reportagem sobre três perguntas básicas que todo turista deveria fazer antes de escolher seu próximo destino: Como chegar? O que comer? Onde dormir?
As opções populares para se chegar a Itaparica são a lancha de Mar Grande, o ferryboat e a Ponte do Funil.
Em relação a Mar Grande, são inadmissíveis as vetustas embarcações utilizadas e que somente funcionam quando a maré cheia permite, a falta de segurança dos atracadouros, a sujeira e o caos reinantes. Sobre acidentes, já comentei em outro texto.
No que tange ao ferryboat, o que mais eu posso dizer!? Basta observar o povo sendo tratado como gado para entender o quanto o sistema é perverso com os mais carentes.
Os veículos de transporte (vans e micro-ônibus) para as diversas localidades, que trafegam em estradas intransitáveis, primam pelo aspecto deplorável e pela inconstância dos horários. Cintos de segurança? São artigo de luxo.
No que se refere às pontes (a do Funil e a sonhada), diz a sabedoria popular que panela em que muito se mexe desanda. Assim, deixo a palavra com os especialistas. Afinal, não estudei para isso.
Comer na Ilha é ainda pior: restaurantes têm padrão de qualidade duvidoso. O atendimento? Não se assuste, afinal, há sempre a desculpa do caráter bucólico e do jeito baiano de ser.
As hospedarias são poucas e de pouco conforto, à exceção, talvez, fosse o Mediterranée, que fechou as portas em julho de 2019. Instalado pelos franceses em 1979, no km 13 da BA 001, o denominado Club Med Itaparica foi uma espécie de “Ilha da Fantasia” dentro da Ilha. Como não o conheci, não sei se era “um mundo de felicidades” ou, ainda, se poderia ter sido considerado como a mistura do “exótico africano com a exuberância sul-americana”. Não o conheci e não o conhecerei. Ele se foi.
Na Ilha, até os sonhos se vão.
Creio, então, que as razões para o atraso da Ilha da Cerca de Pedra são inúmeras: divisão, sem sentido, em dois municípios, falta de planejamento urbano, ausência de política de marketing, precários serviços públicos (energia, água, telefonia, internet, educação, saúde, esgotamento sanitário, limpeza e transporte), loteamentos irregulares, privatização de praias, favelização, elevado índice de desemprego e/ou de subemprego, violência, tráfico de drogas, inadequada estrutura turística e, acima de tudo, o incerto sistema de travessia para Salvador.
Postos esses fatos, como então esperar que o turista frequente ou volte a frequentar a Ilha que tanto encantou e inspirou o mestre João Ubaldo? Quem sabe o saveiro, que também se foi, tenha a resposta?
Inaldo da Paixão Santos Araújo
Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor, escritor.
inaldo_paixao@hotmail.com
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