quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

PROPAGANDA DE MARGARINA

São nove e trinta da noite e eu, ainda às voltas com meus escritos, num registro contínuo da memória que de uns tempos para cá, resolveu abrir as comportas, deixando jorrar as águas de minha represa de vida.
Às vezes, me encabulo ao pensar que as pessoas possam achar que pinto as pílulas de dourado, justo por saber um pouquinho dedilhar as palavras.



No entanto, jamais conseguiria tal proeza, pois, se assim fosse, com certeza escreveria romances, já que o que jamais me faltou foram ideias românticas, mas não consigo, meu destino sempre foi o de relatar o que vejo e principalmente, o que sinto.

Sou uma cronista, fazer o quê?

Então, não pensem que minha vida tenha sido por todo o tempo uma “propaganda de margarina”, muito pelo contrário, uma montanha russa sem paradas para descanso, afinal, tanto eu como Roberto éramos absolutamente diferentes, desde a origem cultural, até nas visões idealísticas, mas tínhamos uma atração fatal pelos riscos e nós, éramos um tremendo e delicioso risco um para o outro. 

Ele o eterno “come quieto” eu, “a espoleta” translúcida que mesmo calada se deixava revelar.

E dizia ele que, foi exatamente por eu ser assim, que se apaixonou por mim...Maluco, isso sim...

Reconhecíamos os defeitos um do outro e até, podíamos quebrar o pau, mas jamais admitimos que o alheio nos invadisse e nos julgasse, pois, se para o mundo, um ou o outro não atendia as exigências das conveniências, certamente, a irmandade fiel de nossos sentimentos, era sem dúvidas, a blindagem da estrutura de nossa união.

Não estávamos nem aí para as convenções que nada mais eram e nós sabíamos, pesados grilhões e para gente com o espírito livre, como nós, não era possível estagnar-se e então, num amparo mútuo, seguíamos caminho, perdoando-nos as falhas cometidas ao longo dos infinitos aprendizados com uma respeitosa e poderosa compreensão..

Ambos detestávamos a inércia  e a repetitividade, tínhamos um bichinho carpinteiro que nos instigava por todo tempo a não temer o além do Arco Iris.

Afinal, pior que perder qualquer coisa tentando, era jamais tentar...

E nós fomos, algumas vezes, tentar com a cuia na mão, e meu Deus.!.. Quantas maravilhas vislumbramos...

Confesso que vivemos demais da conta...

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