sábado, 19 de fevereiro de 2022

PERDAS INFINITAS...

Encostada no peitoril da janela, tomo o meu café lentamente, ouvindo Clair de Lune de Debussy com os olhos fixos no horizonte como que hipnotizada com o espetáculo que se descortina, neste primeiro ato do amanhecer de um novo dia.


Acompanho os movimentos ainda tímidos dos primeiros raios de sol que silenciosos, deitam-se mansamente sobre os telhados e nas raras árvores, fracos ainda para banharem ruas e calçadas.

Penso, enquanto aprecio este novo despertar do dia, que por mais meticulosa que eu possa ser, na ostentação quase que compulsiva de meus versos e prosas, jamais, conseguirei descrever as belezas da vida no seu ininterrupto exibicionismo, levando-me a perder sempre um detalhe especial, enquanto, desvio o olhar para tão somente, registrar em palavras o que fascinou minha alma.

Será, assim também no convívio interpessoal? 

Terei perdido infinitos momentos realmente relevantes, justo por ater-me viciosamente a um detalhe ou como uma curiosa contumaz, atenho-me aos detalhes não expressivos que as pessoas camuflam com um sem número de mascaras e artifícios, só para disfarçarem quem realmente são?

Olhando os nasceres e os deitares dos sois, desta minha longa caminhada existencial, constato com uma pontinha de decepção, que por distração, inércia e, até, medo do que poderia enxergar, deixei de perceber infinitas nuances, permitindo assim, que as sombras das muitas realidades, me induzissem ao primário erro da apreciação, fixando-me tão somente, na estética sedução, para logo a seguir, deixar brotar em meus olhos, as pesadas lágrimas da decepção, empanando mesmo que por instantes, os brilhos do autêntico existente ao seu redor.

Que desperdício, meu Deus!

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