Eu sou de um tempo em um Rio de Janeiro absolutamente bucólico, que me dava a sensação de residir num principado de beleza e elegância, mas que aos pouquinhos, foi sendo invadido pelos modismos de todos os níveis, vindos de todas as direções, que foram chamados de evolução e progresso e que, foram imediatamente abraçados pelos jovens, no que eu me incluía, mesmo não tão afoitamente, se bem que me sentindo tentada, afinal, suas bandeiras flamavam liberdade que passou a ser tudo que realmente importava para destravar as portas das “repressões “que lhes eram impostas pelos hábitos e costumes de pais e avós, todavia, amparados pelo advento das pílulas, pelo incentivo das mídias e pelas novidades em si e principalmente, pelo jeito descontraído do carioca em acolher outros jovens que buscavam as oportunidades artísticas com suas múltiplas e diversificadas faces deste Brasil imenso e tropical que, até então, era desconhecido ou remoto para a maioria dos jovens cariocas.
Todo desconhecido aguça as curiosidades.
Neste aspecto, os jovens paulistas, talvez, devido ao clima e a outros aspetos culturais, apesar de receberem as novidades bem antes, foram mais prudentes, deixado os jovens cariocas, se exporem e serem os abre alas das novas conquistas, não correndo assim, os riscos e consequências das novas introduções comportamentais, pelo menos no início.
Pensando nisto agora, creio que ambos se descaracterizaram em suas originalidades, pois, foram inevitavelmente, cada qual, arrebanhando tanto o excepcional, quanto o medíocre das evoluções, todavia, o pior de tudo isso, foi deixar desenvolver-se, sem estratégias de prevenção e contenção, uma miséria de todos os níveis e dolorosamente explicita.
Faço um hiato nesta minha reflexão, para frisar que, pobreza, corrupção, drogas e malandragens de todas as naturezas, já existiam, ate mesmo, sob a alcunha de autoridade e, gente do bem, mas convenhamos era menos ostensiva e, portanto, menos volumosa e assim, não atraíam como a partir dos anos setenta, passaram a atrair uma gama assustadora de espertinhos oportunistas, bandidos engravatados dos quatro cantos do país, transformando o Rio de Janeiro e São Paulo em modelos progressistas para a jovem Brasília, em celeiros da vagabundagem institucional, assim como, um plantel da miséria humana, comprometendo irremediavelmente, o caráter de seus nativos, banalizando a dor e a vida, em espetáculos cotidianos de bizarrices e mazelas.
Saudosismo?
Sim como não o ter, depois de tantas vivências entre os gramados verdejantes e as grudentas lamas?
Faz no próximo dia 31/12, vinte e dois anos que aportei em Itaparica, meu pedacinho de paraíso tropical e ao contrário de trazer os meus modismos e tentar alterar o genuíno que me encantou, abracei o existente, como forma de reconhecimento ao caloroso acolhimento, buscando a cada instante não perder o foco de minhas intenções e buscas de paz, simplesmente, vivenciando o melhor que esta terra bendita me estava sendo capaz de oferecer, mesmo repleta de dores e feridas provocadas pelas maléficas influências que, alguns foram abraçado como metas pessoais em detrimento de um povo ainda ingênuo e incapaz de perceber o quanto, sempre esteve sendo privado, ano após ano, de conquistar os seus mais elementares direitos humanos, aceitando o ouro dos tolos, como brindes existenciais.
Quanto a mim, entre o desfrute da sempre inédita grandeza deste local energeticamente gigantesco, mantenho-me fiel, num combate incansável e árduo de tudo quanto, possa roubar desta gente sofrida, mas linda, os seu mais primários direitos, que a maioria sequer reconhece merecer.
Levando-me imediatamente a perceber que mesmo reconhecendo as imensas diferenças culturais, os itaparicanos, ainda se comportam, tal qual, fizeram os cariocas e paulistas que subestimaram ou se adequaram às novidades, deixando de enxergar as riquezas de suas reais e promissoras possibilidades evolutivas.
Hoje, é Natal e uma ótima oportunidade para refletirmos sobre o quanto, de verdadeira e necessária, tem sido a nossa evolução como criatura humana ou, se tão somente, continuamos como insensatos, polindo o ouro dos tolos que em dado momento, vestimos, contaminados pela vaidade maléfica, que não cessa de nos induzir, que somos um incrível sucesso...
Regina Carvalho 25/12/2023 -Itaparica
"Onde houver trevas que eu leve a luz"
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