terça-feira, 19 de dezembro de 2023

LÓGICA DO BEM COMUM...

Houve um tempo na minha vida em que eu cri que os meios justificavam os fins. E nesta toada hipócrita que sorvi deste sistema provocativamente aliciante, segui vida a fora.

Com o tempo, os mergulhos cognitivos, as leituras dos grandes pensadores da humanidade, mas acima de tudo, do contínuo resgate dos parâmetros educacionais domésticos, fui compreendendo a força da teia, na qual, por imprudência e vaidade me deixei envolver.

O golpe final, para que eu reencontrasse os valores éticos e morais, com os quais, fui forjada, se deu em 1993, quando sozinha, na companhia de dois lindíssimos pastores alemães, caminhando pelas não menos belas alamedas que cortavam os 10 mil metros quadrados de belezas naturais, tolamente ornados com o luxo artificial de minha vaidade já então, desmedida, senti uma profunda dor no peito, que me fez cair literalmente, sem ter a quem pedir socorro.


Arrastei-me até o meio fio, sentei-me nele, tendo meus fiéis amiguinhos ao meu lado, percebendo que algo não estava certo, mas nada podendo fazer, lambiam-me incessantemente e assim aos poucos, fui melhorando e crendo que havia tido, uma síncope cardíaca aos 40 anos e que deveria, imediatamente, procurar um médico.

Mas como meu Deus?

Afinal, estava só e sem forças para retornar à casa, quanto mais dirigir os oito quilômetros que separavam o meu sítio do hospital da cidade mais próxima que era Caeté, em Minas Gerais.

Foi então, que algo aconteceu, como se eu tivesse sido anestesiada, ficando apenas a minha mente podendo se movimentar, trazendo à luz da razão, a razão que eu havia deixado nas sombras.

Quando dei por mim, a noite havia chegado, o céu parecia um manto de luzes cósmicas que faziam brilhar o Mosteiro da serra da Piedade a minha direita, lá no alto da colina, num misto de cenografia cósmica e humana, que afinal, tinham sido as razões que me fizeram escolher aquele pedaço de chão e céu, para nele, supostamente, criar o meu paraíso terrestre.

Após este episódio que confesso, descrevo mediocremente, já que me é impossível em palavras narrar a dor e o esplendor que me acometeu, meu cotidiano, minhas posturas, mas basicamente os meus quereres, sofreram estupendas renovações. Nunca mais fui a mesma, melhor dizendo, dali em diante, fui resgatando a pessoa real que eu havia sido moldada, processo este, que exercito até os dias atuais, já que fui compreendendo ao longo do caminho, o quão trabalhoso é qualquer reparo, exigindo paciência, sensibilidade, delicadeza e tudo quanto, não fira a originalidade que precisa resplandecer.

E o sistema insistente, puxando-me, aliciando-me, castigando-me, enquanto, o universo e as energias que dele, emanam, generosamente, ofereceu-me por todo o tempo, as margens seguras para que o rio de minhas emoções, jamais voltassem a transbordar de inconsequências ou secassem de dor.

Jamais voltei a praticar, qualquer tipo de solidariedade aos demais, que nada mais eram que, atos de consolo pelas minhas transgressões pessoais, afim de corromperem aminha consciência, afim de desculpar-me, aliciando a minha mente, sufocando os valores únicos, capazes de me garantirem a paz da Regina para com a Regina e com o tudo mais.

Portanto, a dor aguda que senti e que acreditei ser uma enfermidade do corpo, foi tão somente, um forte sinal da vida para que eu, acordasse, deixando a minha alma, transparecer legitimamente, através de mim.

Tem sido uma luta, mas tem valido a pena, receber e hospedar, toda a plenitude existencial que tenho permitido sentir em mim...

E aí, como não acreditar na força bendita da natureza e no Deus que em mim, fez sua morada?

“Senhor, onde houver mentiras que eu leve a verdade”

Não a minha, mas a verdade sobre a lógica indiscutível do bem comum.

Regina Carvalho- 19/12/2023- Itaparica

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