A chuvinha ameaçou aparecer, mas por algum motivo desistiu, o que para mim de certa forma foi uma pequena decepção, já que ao ver seus minúsculos pingos molhando o caminho no qual, percorro diariamente até o portão, pensei sorrindo:
Maravilha!!! Que venha para refrescar...
Se bem que por estas bandas tropicais, nem sempre esta é uma premissa verdadeira.
Olho o jardim através da janela, pensando que a cantoria está suavizada, pois, nem os bem-te-vis e tão pouco os sabiás, estão na área, deixando as rolinhas, os papas capim e os assanhaços absolutamente livres para serem os protagonistas no palco de meus sentidos, tornando lentos e sem qualquer pressa meus escritos, como se uma preguicinha gostosa, também quisesse ser a artista principal, neste domingo ensolarado.
Lá, bem longe do mundo que criei ou uma força superior criou pra mim, posso tudo, até mesmo, nada querer fazer, deixando apenas, trabalharem os meus sentidos, num poderoso arrastão de sensações que não me cansam e nem me estressam, mas abastecem a minha mente e acima de tudo, a minha alma, percebendo que dia a dia, fica mais leve e seletiva, obedecendo, não as conveniências e normas convencionais, estabelecidas pela sociedade humana em suas variadas culturas, mas tão somente, a minha natureza que, rigorosa defende a paz, nela naturalmente existente.
Através desta paz me é possível observar e lamentavelmente constatar, o quão falso tem sido os relacionamentos entre as pessoas e não é porque sejam incapazes, mas porque, desconhecem outra forma de relacionarem-se umas com as outras, num círculo vicioso, como uma doentia compulsão, incapaz de ser dominada.
Se no palco da natureza, os sabiás e bem-te-vis, saem dos holofotes das cenas, abrindo espaço para os demais pássaros, também se expressarem, nos palcos sociais, disputa-se por todo o tempo o protagonismo, exacerbando a vaidade de uns e as frustrações de outros e nesta equação, nada se agrega, tudo se disputa, soterrando valores preciosos, sem que os protagonistas das soberbas, se quer se deem conta.
Que neste domingo de verão antecipado, consigamos nos despir, nem que seja por um só momento, deixando as cortinas do protagonismo ao outro, que como nós, anseia a luz dos holofotes.
Regina Carvalho- 3/12/2023- Itaparica
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