O dia acaba de amanhecer acinzentado, o que não intimidou os pássaros que me parecem mais animados do que nunca, sequer se importando com o paradeiro das folhas e galhos, nem mesmo os coqueiros com seus costumeiros farfalhares, fazem acompanhamento musical.
Cá estão os pássaros que assim como eu, seguem suas rotinas, independentemente das variantes que se apresentem, afinal, a vida é como um rio que segue caminho com destino certo que é desaguar no mar.
Então, de que adiantaria resistir aos desvios criados ou naturalmente formados?
De que adiantaria não abrigar os afluentes que nem sempre se chegam mansamente?
De que adiantaria resistir ao fluxo que só vai se acumulando ao longo do caminho?
Penso no meu próprio rio pessoal e no quanto, precisei transbordar margens ao longo do caminho para ir seguindo o curso sem maiores perdas de meu próprio fluxo, para que esse não secasse ou se contaminasse com os detritos existentes nas margens, diante da força de certos afluentes abusivos.
Neste momento em que aprecio o dia amanhecendo, lembro dos meus amanheceres que se somam a uma existência rica e abundante, reconhecendo que minha sobrevivência se deu, justo, pela fidelidade que imprimi em mim, intuição que não desconsiderei, quanto aos necessários recuos que deveria dar, afim de que os infindáveis afluentes, em meu rio se chegassem, se acomodassem, sem, no entanto, deles absorver os detritos que, fatalmente traziam nos seus volumes d’águas.
Deixei naturalmente que cada um passasse com suas pressas e forças, afinal, nunca tive pressa em desaguar no mar, preferindo apreciar calmamente todo o percurso, alimentando-me das ricas experiência que as apenas observações, são capazes de oferecer...
Às vezes, pensei que secaria de dor
Outras vezes, transbordei em prazeres
Mas em todas as vezes, fui apenas um rio
Seguindo comprometida o meu próprio curso.
Regina Carvalho- 9/10/2023
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