O calor tem castigado corpos e mentes e eu, penso que mais que todo mundo, o sinto mais escaldante.
Neste calor impiedoso, gostaria de não precisar fazer absolutamente nada, ficando apenas aos pés de um refrescante coqueiral a beira mar, recebendo as generosas brisas, trazidas pelo farfalhar de suas folhas, estimuladas pelo balanço do mar.
Inercia intermitente e perigosa que alicia silenciosamente a mente a nada pensar, fazendo de mim, tão somente, uma preguiçosa e aí, tudo começa a me parecer chato, repetitivo e enfadonho.
Calor perigoso e astuto que faz desabrochar certezas que sempre soubemos, que se nos invernos esquentam, nos verões amofinam, nos invernos estimulam, alternância na qual, vou tentando me adaptar, confessando que cada vez menos.
Será maturidade ou apenas, cansaço da longa caminhada?
Será consciência que já não aceita, jeitinhos e adaptações?
Será noção absolutamente clara e nítida da inutilidade de se guerrear contra um sistema viciado aos maus hábitos?
Não serão os coqueiros e as brisas, opções mais coerentes e saudáveis, deixando espaço aberto para os entusiastas e iludidos?
Não serão meus enfados, sinais da vida para um stop ora bem-vindo, alertando-me que o meu tempo, definitivamente não será eterno?
Não serão estes, os estímulos que a alma desesperada envia como derradeiro grito de socorro, mostrando incansavelmente através de cada gota de suor que, existe muito mais ainda a ser vivido e que a inércia escolhida e bem sorvida, seja a forma metafísica de se reverenciar a própria existência, sorvendo e usufruindo do já conquistado, deixando aos mais jovens, o bendito encargo da continuidade?
Esta dualidade em querer tudo ainda realizar e ao mesmo tempo, desejar as brisas e os coqueiros, não será a generosa vida querendo que a sorvemos até o último gole, abrindo mão da vaidade do comando para simplesmente deitarmo-nos nas delícias já conquistadas em prol da merecida inércia?
Penso que este calor causticante, insiste que eu compreenda que não se trata de parar, mas de tão somente, mudar o foco dos interesses e das atividades.
Se olharmos para os lírios dos campos, teremos a resposta, afinal, não tecem e tão pouco fiam, mas por Deus, como adornam e perfumam a vida...
Apaziguar a mente, o corpo e a alma, não serão as formas mais grandiosa de se louvar a Deus em gratidão ao tudo já recebido e vivenciado?
Que nesta sexta-feira encalorada, entre o calor e a insistente lucidez, instantes sejam reservados para se refletir sobre coqueiros e brisas e na felicidade de poder colher e saborear sem culpas e inúteis cobranças alheias, os frutos que por toda uma existência foram plantados e arduamente, cuidados...
Regina Carvalho-27/10/2023- Itaparica
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