quarta-feira, 18 de outubro de 2023

EU TE AMO E A BESTIALIZAÇÃO

Mil vezes já escrevi a respeito desta expressão as vezes, usada com leviandade outras vezes, desconsiderada ou mal interpretada, pois, remetem-na na maioria das vezes, aos sentimentos amorosos, o que é não só uma infantilidade, como uma incapacidade avaliativa, já que o perfil de quem a expressa, segue indubitavelmente com ela, assim como para quem a diz com paixão ou extremo carinho, é sempre muito gratificante.

E aí, pensando nesta delícia que só deveria fazer bem para quem a diz e para quem a ouve, remeto minha mente para exatamente o contrario ou seja, aquela pessoa que teme dizê-la e aquela que anseia ouvi-la, penso então: Que desperdício...!


Certamente os relacionamentos de qualquer natureza, seriam bem mais cordiais, provavelmente, o eu te amo, seria consequência natural de harmoniosas outras expressões como por exemplo um bom dia sorridente, até mesmo para um desconhecido que está sentado no banco do ônibus, no qual, você pretende também se sentar, assim como um obrigada para o motorista do mesmo ônibus, quando este parar, afim de que se possa descer, assim como, em infinitas outras situações cotidianas.

Simples assim .?.

Deveria ser, mas infelizmente, não o é , afinal, a pressa, a mente pensando em algo, muito distante dali ou mesmo a falta de hábito, já que costumeiramente, o outro é invisível no vai e vem das rotinas.

Penso então, que se não se é capaz de enxergar o outro tão próximo, como será possível enxergar toda a miséria humana que também como rotina, persiste nas esquinas, portas das lojas, debaixo dos viadutos, na favela ao lado da própria casa?

Como perceber a árvore centenária que a Prefeitura cortou para abrir espaço para a colocação de um palanque para uma festa qualquer ou o vizinho por motivos pessoais que a envenenou na calada da noite?

Como enxergar os olhos congestionados pelo uso de entorpecentes do próprio filho, afinal, este é um fato corriqueiro que passa batido e que só é percebido, quando o mesmo cria tumultos, rouba, mata ou morre.

Como esperar-se reconhecimento alheio, se não há reconhecimento pessoal, além do aparente estético?

Como dar e esperar receber afeições verbais se sequer sabe-se identificar a dimensão de seus efeitos em si próprio e em tudo ao seu redor?

Penso então, que vivemos uma era do apenas superficial e leviano, onde por indução religiosa, cultural ou puramente, adaptativa ao sistema, cumpre-se determinados rituais, ficando os relacionamentos divididos em setores considerativos, não necessariamente abastecidos de reais sentimentos e emoções.

Portanto, mata-se mais, ignora-se mais, participa-se menos, transa-se mais, faz-se amor de menos.

E quando penso no fazer amor, não me limito a cópula regada a sentimentos e emoções inenarráveis, mas em toda e qualquer convivência que deveria estar envolvida no mínimo, a atenção e o respeito mútuo, num fazer amor harmonioso das convivências  abastecidas de emoções agregativas, a si próprio, evitando-se assim, um gigantesco manancial de truculentas ações e reações.

Um “Bom dia”, assim como um muito “obrigado” é tão fundamental quanto, um me dá “licença” ou me “desculpe”, todos tão importantes, quanto o eu “não sei”.

Empolgada na escrita, já ia me esquecendo do pode me “ajudar” ou precisa me ajuda”?

Realmente, seria simples assim, se ao invés de termos jogado fora os valores básicos, os tivéssemos ampliado, mas para isso, teria sido necessário raciocinarmos, avaliando as alterações de condutas e seus assustadores efeitos, mas como acontece em relação ao ovo e a galinha, fica-se na dúvida de quem surgiu primeiro.

A morte encefálica das formas de convivência, já aconteceu, está-se apenas vivenciando cada vez mais rápido, o desligamento das máquinas de sobrevida.

E não se pode culpar a Deus, afinal, ele fez tudo, inclusive a perfeição humana, todo o restante é de responsabilidade da incompetência, quanto a utilização desta maquina perfeita e desta ciência exata, que insiste em temer expressar o “eu te amo”, optando em variados aspectos pela indiferença e a bestialização.

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