Desde muito garotinha, observei que ao morrer alguém próximo ou mesmo uma personalidade, a comoção era enorme, mas em pouco tempo, o mesmo nem mais era citado, ocorrendo também com os dramas sociais.
Enquanto jovem, pensava:
Poxa, a pessoa morreu, mas pra onde vão seus cotidianos, seus sorrisos, suas lágrimas?
Por que somente o “material” por ela deixado, permanece?
Será que só isto, importa?
Pensando nisto, creio que provavelmente, foi este tipo de observação que me induziu a começar a registrar os fatos que envolviam perdas humanas, afinal, de alguma forma, não achava justo e com o amadurecimento dos meus entendimentos, mais e mais, fui reforçando o que para mim, parecia uma injustiça com o histórico de cada um.
Hoje, conscientemente ligada a importância da vida, assim como a vulnerabilidade de minha própria vida, falo dela e da morte com a naturalidade com que tomo um copo d’água, afinal, compreendo com a transparência de um raio de sol que, nada vivido pode realmente importar, senão a cada criatura, que o viveu na carne, na alma e no coração em seus instantes existenciais, não cabendo discordar dos naturais “esquecimentos”, afinal, a vida continua, abrindo a cada milionésimo de instante aos que existem e aos novos personagens, alternadas sessões emotivas deste espetáculo que é a vida.
Todavia, compreender e não discordar, pelo menos para mim, não são sinônimos de aceitar, portanto, mantenho vivas nos meus hábitos, as lembranças daqueles que de alguma forma, impactaram a minha vida, sempre que tenho oportunidades, mantendo vivos seus nomes, gostos e feitos.
Ao longo da vida, por não compreender, já que nunca fez lógica e até mesmo, sentido, que o referido defunto, fosse homenageado num só dia, anualmente, quando, nem sempre era notado devidamente no cotidiano, levando-me a deduzir com esta minha cabeça de porra louca desde a infância, que na realidade, trata-se de mais uma culpa, revestida de saudades que precisa se expressar para uma sociedade estimulada pela hipocrisia em valorizar os mortos, pelo pouco caso, oferecido aos vivos.
Ora ora, alguém lá precisa, de um dia especial para oferecer flores e orações para um alguém com quem dividiu, no mínimo emoções?
Não seria mais sensato, continuar a mantê-lo vivo nas referências de qualquer natureza, não permitindo que sua passagem terrena, tivesse sido apenas, um punhado de fatos, recobertos de lutas sacrifícios, sentimentos e emoções, que já não mais existem?
Mas como eu sempre digo, sou uma porra louca apaixonada pelas emoções humanas e cósmicas, portanto, bem distante das realidades sistêmicas, a anos luz em conseguir aceitar a lógica sistêmica que, oferece flores, discursos, velas e orações aos mortos que em vida, muitas vezes, sequer receberam uma atenção especial...
Nesse instante, ouço uma seleção de músicas cantadas por Nelson Gonçalves, que o meu querido amigo Elon Coelho me enviou ontem à noite e que, me inspirou a escrever este texto, pois, cada canção, fez reviver dona Hilda, minha mãe, de quem herdei a paixão pela música, mantendo nossa casa, sempre alegre e abastecida de poesias e aí, ela não morrerá jamais, enquanto eu, a Regininha viva estiver enxergando-a, sentindo-a através de meus hábitos e emoções, estimulados basicamente por aquela, linda mulher.
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