Ainda no rastro da liberdade, coloco-me a lembrar das muitas fases que passei comigo e com o terror de me ver de repente sozinha, num mundo tão grande e muitas vezes cruel, onde sempre tive um braço forte e absolutamente confiável, onde por todo o tempo eu me apoiava, mesmo que, levianamente crendo através da vaidade, que desses braços eu poderia simplesmente prescindir.
Qual nada, afinal, a vida veio sem aviso prévio e levou os braços protetores e com eles, toda a minha frágil estrutura e eu, numa insensatez que toda profunda dor provoca, busquei loucamente sobreviver a qualquer custo, desenterrando um passado, como se este, fosse capaz de sobrepor-se a minha realidade.
Dois anos e cinco meses se passaram e a luta tem sido diária, ficando cada dia mais serena, menos doída, mais compreendida e assim, como meus escritos, a cada dia percebo a minha evolução e constato que nada como o passar do tempo e a empírica vivência, para que me seja mostrado o tamanho da dor que se abateu sobre mim e a descomunal força interior que existia em mim, afim de fazer frente ao imponderável.
E aí, bendita liberdade que me foi mostrada na infância, sempre atrelada ao amor de qualquer natureza, filete de água que foi se avolumando, criando força e extensão ao ponto de para me manter caudalosamente saudável, abriu espaço para alguns afluentes que levaram cada qual, o que já não cabia em mim.
Expus-me certamente mais do que deveria, fingi uma aceitação que até então, não sentia, planejei voos que nenhuma asa sustentaria e como um barco à deriva, deixei a maré, traçar o meu rumo.
Levei foi tempo, medido em horas, escritos e infinitas orações...
Rasguei-me toda, expondo-me aos pássaros e as borboletas
Senti foi medo, terror, apavoramento por ter que interpretar um solo em meio a uma imensa orquestra, sem um regente a comandar-me...
E tolamente sequer percebia, que a cada movimento a que eu me dispunha, lá estava o bendito solo desabrochando em mim.
Bendita força estranha que me acompanha, mesmo que apavorada, doída e machucada, por terem me tirado o chão, fui capaz de abrir os braços, acenar aos pássaros e com eles voar, não desistindo em momento algum de simplesmente, sonhar...
Voa Regininha voa
O voo é para quem quer voar...
O vida não fica pequena
Para quem voa e busca sonhar.
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