A noite chegou de mansinho, silenciosa, tal qual, se comportou ao nascer do dia, sequer trazendo os pássaros como de costume e o silêncio, parece mais profundo, levando-me a colocar um pouco de música, afim de pelo menos, eu sair também um pouco do marasmo que caracterizou este dia.
Coloco então, Claude Debussy – Preludes, mas logo substituo por Clair de Lune, mais alegre para quem sabe, ajudar-me a tirar a culpa por ter descoberto que sou capaz de nada sentir.
Fecho os olhos entre um parágrafo e outro, deixando os acordes adentrarem em minha mente e o dedilhar das teclas do piano, uma a uma, faz despertar lembranças das muitas lágrimas que em diferentes ocasiões, rolaram pelas minhas faces de apenas uma jovem mulher apaixonada pela vida, ao ponto de inundarem o meu coração de profunda dor.
Parece que foi ontem, mas já se passaram trinta e um anos, quando, a indiferença associada ao abandono, fizeram jorrar meu último pranto de solidão.
Nunca me senti tão só, quanto naquela ocasião e nunca fui tão resistente, buscando sobreviver a maldade humana.
Nunca mais pensei a respeito, mas hoje, diante da notícia do flagelamento físico de um dos carrascos, justo o que eu mais apreciava, percebo assombrada que nada sinto...
Nem mágoas, nem raivas, sequer pesar, nada, absolutamente nada, como se estas cenas do meu passado tivessem evaporado entre meus pássaros e borboletas ou seguido viagem, misturadas as águas de meu regato de Guapimirim, de onde mesmo a distância, depositava minhas dores e dúvidas vivenciais.
Enquanto escrevo, sinto que estou serenando um novo aspecto de minha natureza e que por instantes, confundi com culpa, por nada sentir e de repente, percebo que a música está sendo, como sempre foi, assertiva à todo o meu manancial de entendimentos cognitivos, afinal, ao longo da vida, juntas superamos as dores da alma, porquê, das perdas, frustrações e dores, jamais fugi...
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