sábado, 7 de janeiro de 2023

PÉROLAS

Enquanto o jornal Nacional lambe cada movimento do novo governo tanto quanto, espinafrava o governo anterior, concluo que não suporto assistir a toda esta aporrinhação por mais quatro anos e então, como faço de hábito neste horário, abaixo o volume da TV e aumento o som de uma bela música e hoje, como estou abusadamente apaixonada, ouço Nanã Caymmi e me posto diante deste meu notebook, parceiro que até cheiro gostoso exala, afinal, de tanto digitar, descrevendo as primaveras e verões com seus aromas que, impregnou-se e me faz a cada dedilhada revivê-los, afinal, disfarça os mal cheiros espalhados e vindos lá de fora. 


Percebo com alegria que sempre fui capaz de reter os aromas que de alguma forma fizeram sentido aos meus sentidos, perfumes de locais, pessoas e situações diferentes , aromas que fui impregnando nas páginas dos cadernos, das antigas máquinas de escrever e depois, nas teclas do notebook e assim, enquanto escrevia ou dedilhava, estes mesmos aromas perfumavam a minha mente, registrando tão somente o melhor e verdadeiramente interessante de cada fase de minha caminhada existencial e assim, não permitindo que as lembranças feias e muitas vezes dolorosas se tornassem protagonistas.

Há quem pense que na vida de um poeta ou simples escritor não haja dificuldades, afinal, como escrever sobre o belo, o cheiroso e principalmente sobre o amor em meio a dor?

Justo por sermos os idealizadores e mantenedores dos palcos da vida, fazemos o mundo sorrir e a nossa alma também, não com mentiras ou falsos valores, mas apresentando como suporte, um mundo paralelo, sim, porque não o ter, se o real as vezes ou quase sempre tem se apresentado feio, mentiroso e mal cheiroso.

Como sobreviver a tudo isso, sem um escape colorido, perfumado e totalmente regenerador?

Lembro que ao perceber a brevidade de minha própria existência numa consciência além de qualquer lugar comum, determinei-me a extrair o melhor, o exclusivo que esta bendita vida pudesse oferecer e então, com uma constante lupa, garimpo meu próprio bem estar e sem cerimônias e mesmo pedir licença seja lá pra quem for, pinço e trago  para o meu mundo, no egoísmo sagrado de me sentir apenas feliz.

Neste mundo que chamo de meu, só o bem querer é bem-vindo, nada pode ser violado, nem cá e tão pouco acolá.

Faz tempo, muito tempo que cuido carinhosamente deste meu mundinho, sem no entanto, violar o mundo de outro alguém e graças a harmonia de suas vibrações, fui capaz de enxergar sensitivamente infinitas pérolas, cada qual a seu tempo, disfarçadas com as capas duras deste sistema humano cruel, mas delicadas e preciosas o suficiente em suas essências para deixarem nenhum momento violarem-me com o peso de seus tormentos pessoais.

Tudo lindo e aí, quando enxergo a leveza de um beija-flor, um lírio que desabrocha ou até mesmo, aquele sol que ao abrir a janela me abraça, posso enxergar e tocar nas minhas pérolas, sem querer fazer delas, minhas posses, mas sentindo-as absolutamente minhas.

E aí, penso nos olhos e no quanto, são eloquentes...

Penso na vida e no quanto podemos embeleza-la...

Penso nas minhas pérolas e no quanto, me completam

Penso enfim, nos seus valores que me são inestimáveis...

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