segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

CÂNCER EMOCIONAL

Provavelmente você que me lê, em alguma manhã de sua vida, assim como eu, segurou a vontade de fazer xixi, só para ficar gostosamente na cama, pensando em algo, no meu caso, agradável, já que não deixo as aporrinhações fazerem de minha mente, poltrona de psiquiatra.

Delícia, foi me rever ensaiando pequenos passos de dança na calçada, absolutamente sozinha, comemorando a minha cura. Ainda bem que era um domingo à noite e não tinha ninguém para testemunhar esta mulher maluca, dançando e sorrindo na rua, como se o mundo lhe pertencesse e nada mais fizesse sentido, além do fato de estar, finalmente curada da profunda dor emocional que em certos momentos, pareceu que lhe seria fatal.


Recordando e segurando o xixi, posso garantir que está sendo a maior sensação que fui capaz de sentir na vida, só comparável, quando em 2015¸ uma biopsia garantiu a não existência de um câncer intestinal em mim.

A dor emocional é um câncer, não visível e pior, sem nenhum remédio capaz de curar, além de toda uma determinação pessoal que ele por si só, se encarrega de enfraquecer. Tudo que parece ser possível é na realidade, tão somente, paliativo, restando em alguns casos a extirpação.

Mas como extirpar com um bisturi o tumor de um amor perdido que levou com ele, toda um histórico de vida?

Precisei resgatar, uma por uma das razões de eu ter sido, uma jovem e depois mulher absolutamente saudável e feliz.

Dançar na rua, deixando as brisas noturnas com os aromas marinhos me envolverem, me fez sorridente poder finalmente, encontrar-me com Deus, apenas para agradecer, oferecendo a mais genuína felicidade, nada mais pedindo a ele, só agradecendo a liberdade irrestrita depois, de dois anos e cinco meses de medo, inconformismo, desespero, solidão e tudo quanto, é capaz de flagelar qualquer mortal, por mais que se julgue preparado para qualquer enfrentamento e ainda, num esforço brutal de se manter a maior parte do tempo, serena.

A serenidade é o ansiolítico que não cura, mas alivia e abre espaço para que uma possível força interior, atue...

Perder o meu Roberto sem aviso prévio, depois de 54 anos da mais leal, profunda amizade e amor, não foi um câncer emocional, fácil de ser vencido.

Claro que não o venci sozinha, afinal, ai de mim se não tivesse existido, todo um entorno de proteção, carinho e de extrema paciência com os meus delírios, provocados pela dor de uma ferida que ninguém enxerga, mas que sangra e desespera.

Portando dançar na rua, foi a forma espontânea do meu corpo, minha mente, mas principalmente da minha alma, sorrirem pra vida que naquele instante, recomeçava pra mim, e como tudo em minha vida, com muita intensidade e repleta de expectativas.

Bendita seja a força da fé absoluta da existência de um Deus, parceiro e amoroso em nós.

Esse texto, dedico a todos os amigos que me envolveram silenciosamente em seus mantos de carinho, dando-me espaço para que eu, escoasse a minha dor. A eles, envio o sorriso gostosamente livre da cura, como gratidão.

OBS: Tenhamos sempre um olhar generoso para todo aquele, cuja ferida não é visível. A DOR provocada pela depressão, sangra e mata.

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