Estiquei-me após o almoço no sofá e apreciava as lindas bromélias que enfeitam um dos galhos da mangueira, mas que só pela manhã se deixa florescer e agora, as 16. 30 já sem o belo sol, elas se recolheram.
Enquanto apreciava as belezuras, meus olhos pousaram num dos pés de limão e, de repente, lá está o filho único de cada ano, ainda pequeno, mas que me permitiu vê-lo exuberante no galho mais alto.
Todos os anos é assim, enquanto o outro produz tanto que chega a se dobrar, este só me oferece um apenas exemplar e eu sem entender, vou curtindo não só a espera, como depois o espremo e tomo com água para sentir profundamente o seu sabor.
Não me perguntem porquê, mas em dado momento enxerguei o meu lindo pai em sua exuberância diante do limoeiro, olhando-me atentamente como sempre fazia, quando eu me punha a argumentar sobre algum não que havia recebido dele ou de minha mãe.
Enquanto minha mãe em dado momento perdia a paciência, ele apenas me olhava meio que irônico e dizia: Minha nega, você é única...
Na realidade sempre fomos muito parecidos, afinal, só deixávamos de apresentar nossas argumentações, quando nos cansávamos, até porque, o que não nos faltava era argumento escondido no cantinho de nossas mentes.
Quando o óbvio não era suficiente, partíamos para uma tal de lógica e aí, puts grila, é que não faltavam exemplos argumentativos.
No fundo, ele não perdia a paciência porque se enxergava em mim, todavia, jamais consegui vencê-lo numa batalha entre o sim e o não, até porquê, quando se via encurralado, lembrava que era o pai e aí apenas dizia num machismo que me irritava:
Enquanto viver debaixo do meu teto, esta é a regra...
Bem, estopim curto, assim como ele, virava as costas resmungando e tudo que se ouvia era o barulho da porta do meu quarto querendo derrubar o batente.
Saudades do sr. Hilton de Carvalho meu pai, meu amor, meu sempre fascínio, que me serviu de modelo para que eu escolhesse a quem amar por toda a minha vida. Sua aparente fortaleza, escondia um pote de mel e então, sempre foi fácil entender a paixão de minha mãe que de tão grande, contaminou a mim e ao meu irmão.
Eles sabiam se amar até mesmo nas trocas de olhares e era bonito de se ver...
Daí, eu ter aprendido tanto sobre os olhares...
Lúdica e brejeira, penso que também de repente, esse estranho pé de limão é ele me surpreendendo a cada ano com um único fruto, que poderia ser perfeitamente, a força de sua presença.
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