Em dias como o de hoje, em que o universo atendeu por momentos os meus apelos, oferecendo-me uma chuvinha rápida e suave, mas que benditamente, refrescou o jardim, os pássaros e a mim, deixando as flores exalarem seus aromas e seivas, afim de alimentarem os beija-flores e as borboletas, encantando os meus olhos e alimentando a minha alma, cá estou, ouvido Charles Aznavour – cantando Avé Maria e, inevitável para esta minha incansável mente, aquietar-se, afinal, a criatura humana, sempre foi tão abastecida de amor e de todos os sentimentos e emoções que dele brotam e ainda assim, vive em plena e constante guerra de todos e em todos os níveis.
E aí, o porquê, afinal, ainda não consegui compreender, mesmo tendo me debruçado por toda uma vida em estudos e observações, mesmo tendo me exposto sem reservas nesta dicotomia sem fim, trazendo à tona, com um absurdo protagonismo a morte e a dor de todas as formas, insistente feiura em ser a escolha primeira dos que apenas apreciam, numa preferência doentia, mesmo que esta, aconteça na parede colada à sua, não lhe despertando o fato brutalmente real de que ela, essa brutal expressão humana, poderá fazer dela, a próxima protagonista.
Falta consciência avaliativa do real, aceitando a dor das destruições como se fosse mais um reality show produzido para atender ao seu gosto viciadamente macabro pela dor e destruição do alheio, para assim, sentir-se imortal?
Produz-se a dor e a morte como espelho colorido de um sistema, alimentando cuidadosamente o feio e o danoso, direcionando dia e noite, mentes e almas em formação, além de não deixarem espaço para as já consolidadas nas mazelas, terem a chance de se acostumarem a gostar do belo e harmônico.
Cozinham e servem as destruições e as mortes, como iguarias especiais de Chefs renomados aos incautos das grandezas da vida, como apenas, um trivial comum.
Oh! Deus...
Onde estás que não te encontro, afim de fazer-me entender, tantos horrores sob o teu céu terreno?
Por que, deste-me esta mente indagadora e capaz de buscar a lógica do bem e do mal, onde deveriam estar?
Pra que sirvo, se o que penso e avalio, mais e mais afasta-me dos demais, já que incomodo, justo, por não aceitar de pronto o duvidoso, como em estimula-los a também não aceitarem, mostrando insistentemente a bendita luz no fundo do túnel de si mesmos.
Estaria eu, loucamente, tentando criar um batalhão de resistentes a este, real desastroso, buscando incansável formar mais uma corrente do belo e amigável que tão expressivamente nos ensina a natureza, jamais passiva e inerte, sempre criativa e adorável, mas quando necessária, passional em atos de pura defesa e autopreservação?
Senhor Deus, deste-me a vida e com ela a consciência de que, por aqui, não estou passando férias, mas labutando em prol, creio eu, de uma evolução espiritual, afim de manter-me integrada ao todo de tuas infinitas criações, no aqui e agora do teu prometido céu existencial.
O vento fresco atravessa o portal da janela e vem me alcançar...
Penso sentindo, que és tu, que generoso me alisa, afim de que eu compreenda que nesta jornada, estás comigo, inspirando-me a cada instante.
Tola, sonhadora, utópica, louca?
Estarei sendo uma tola senhora, como fui uma tola criança e uma tola jovem ao acreditar que a força do amor que tento transmitir através de meus escritos e minhas posturas, seja capaz de como o vento, alisar aos outros, fazendo-os refletirem sobre si mesmo e levando-os a provarem, nem que seja um pouquinho dos reais e saborosos sabores dos frutos dos pomares de suas vidas?
Lastro de amor, vida e liberdade...
Será este o legado que deixarei ao partir para outra dimensão existencial?
Não sei...
Penso, no entanto, que sinto um enorme prazer em ser o que sou e isso me basta, afinal, desta forma, estou em qualquer lugar e ao lado de quem, realmente desejo, fazendo exatamente o que me faz feliz...
E ser feliz, não é estar contigo?
Neste universo de equilíbrio, razão e amor, sou uma colorida borboleta, um leve e resistente beija-flor, uma apenas mulher, sou tudo que desejo ser, principalmente, posso estar ao de alguém, sem que este, sequer, perceba a minha presença, exatamente como num reality show, fazendo-o sorrir, sem motivos aparentes, apenas, vibrando na leveza de instantes, ao toque de minha paz.
Disseste-me em um certo dia que estarias em mim e através de mim, realizarias milagres...
Pois bem, aquela garotinha que balançava os pezinhos no regato de Guapimirim, respirando o ar de teus pulmões verdes e floridos, acreditou...
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