Nunca enquanto eu viver, irei concordar com o separatismo de qualquer natureza. A divisão de classes econômicas, exigiu lideranças e promoveu a divisão humana, abrindo portas para as divisões de raça e gênero, fazendo a criatura esquecer da própria humanidade, que deveria congregar parcerias de amparos mútuos.
Como mulher, jamais poderei pensar e sentir como um homem
Como uma pessoa branca, jamais poderei mensurar como se sente e o que sofre uma pessoa preta.
Como mulher hetero, jamais poderei imaginar os sentimentos que envolvem uma lésbica
Mas como mulher, branca e hetero, com certeza devo e posso conviver com todos os diferentes, respeitando-os como seres que dispõem como eu de sentimentos, capacidade produtiva, talentos e desejos.
Portanto, não me venham penalizar por crimes que eu não cometi, mas tenham-me como uma aliada na defesa de seus direitos.
A cor de minha pele, não define minhas ideias e ideais, o meu gênero não me obriga a seguir padrões ora arcaicos, ora libertinos.
Portanto, sou uma pessoa em contínuo aprendizado que respeita, esperando ser respeitada.
Em relação a live em que participei do canal do Povo que particularmente achei produtiva, já que pouco ou quase nada em termos de cultura e humanidade, tem sido apresentado como discussões que estimulem o raciocínio e a interação em nossa cidade, quero ressaltar um ponto que identifiquei como chave que abre em mim, uma ponta de rejeição e que certamente, também em outros e que, provoca uma sensação de desconforto, o que pode levar a uma certa rejeição.
1- A constante insistência quanto, a valorizar a dor do negro pobre em relação ao branco pobre, levando-me a crer que quem assim afirma, nunca de verdade esteve numa favela do Rio de Janeiro ou mesmo, numa região de pobreza extrema em qualquer lugar deste nosso país.
2- A afirmativa de que o branco tem acesso mais facilmente às oportunidades, desconsiderando os enormes esforços dos brancos pobres que por suas determinações e infinitas formas de preconceitos, chegam ao destino de seus merecidos esforços.
3- Exclusão dos brancos dos movimentos de lutas dos negros, com a premissa de que o negro precisa se reconhecer merecedor e conhecer sua ancestralidade, para então, estar apto a convivência com os brancos, me leva a pensar que este separatismo é uma forma disfarçada de preconceito, pois, valorização cultural e cognitiva sem que haja prática interativa, torna-se quilombo de resistência com apenas referências exclusivistas de visões unilaterais.
4- O engessamento da luta com a bandeira principal sendo a vitimização, acompanhada de leis de amparo sendo aplicadas indiscriminadamente, cria no mínimo uma barreira sólida, quanto a negação da liberdade de exposição das dúvidas e das ideias que conduzem a uma discussão mais ampla e proveitosa.
5- A falta de compreensão do negro quanto a ignorância do branco em relação não só as suas dores, como as suas lutas históricas, levam-os a não reconhecerem suas parcelas de responsabilidade no processo, já que minimizam suas impossibilidades, responsabilizando um sistema branco escravagista e sempre, não contabilizando os negros que apesar disto ou daquilo, quebraram e quebram diariamente, os grilhões das dificuldades, buscando seus ideais.
6- E para não mais me alongar, pois, o assunto é complexo, lembrar que a Bahia é o estado que mais abriga negros, portanto, também é o estado onde mais negros passam fome, são mortos e presos. Ficando as estatísticas comprometidas em relação aos demais estados brasileiros, desconsiderando-se que a pobreza e a violência abraçam negros e brancos, num país cuja constituição é constantemente interpretada ao gosto dos interesses políticos, gerando em proporções cada vez mais assustadoras a fome, a miséria, a violência e a corrupção.
7- Se olharmos a postura dos negros e dos brancos da história do passado e a compararmos com a história dos tempos atuais dos últimos, digamos, sessenta anos, poderemos compreender que ampliamos teoricamente as conscientizações e as oportunidades, mas permanecemos todos, sejamos negros ou brancos, escravos de um sistema arcaico e cruel que muda os seus líderes de tempos em tempos, mantendo os preceitos separatistas cada vez mais fortes e devastadores, em se tratando do respeito humano, ético, moral e da valorização dos princípios básicos de equilíbrio social, ficando a pratica a desejar.
8- Compreendo e apoiarei toda e qualquer luta em que minha voz e minhas premissas, possam ser consideradas ou rejeitadas sem que o cunho da cor de minha pele ou as condições familiares e econômicas que estiveram inseridas na minha formação de pessoa social humana, sejam os balizadores das questões por mim apresentadas.
Inegavelmente, sinto-me mais livre e coerente argumentando através da escrita que falando, portanto, pelo respeito que sente tive pelas criaturas humanas, sejam pretas ou brancas, espero sinceramente, ter me feito entender.
OBS: Citar outros países que utilizam o separatismo cultural, como China e Índia, é no mínimo, esquecer que somos um povo miscigenado e com natural vocação a interatividade cultural, aberto ao restante do mundo, graças a Deus.
A meu ver é preciso desvincular toda e qualquer luta de valorização humana das crenças e das políticas partidárias, pois, aonde corre dinheiro e poder, as causas da proteção humana, não são prioridades verdadeiras e sim e tão somente, bandeiras de ascensão aos poderes disponíveis, que privilegia apenas uma minoria que aparece, mantendo refém uma maioria de negros e brancos, numa descomunal senzala social, onde poucos capitães, comandam as manobras.
E viva Castro Alves, que mesmo quase um ainda menino, em versos duros e precisos, descreve os movimentos econômicos, políticos e humanos, impactando o mundo até hoje, como um bendito negro de visão ampla e irrestrita...
Regina Carvalho-23/11/2023- Itaparica
Nenhum comentário:
Postar um comentário