Acabei de tomar um banho gostoso no meu chuveirão, debaixo deste sol bendito que ajuda a esquentar um tiquinho a água e me induz a demorar mais do que deveria, evitando assim, o desperdício, então, penso; estaria desperdiçando, já que me traz tanto prazer?
Prazer de estar sentindo-me por inteira, mesmo que o sabonete percorra lentamente cada área, alisando sem pressa, num reconhecimento amoroso deste amigo de longa data, que veio passando por inevitáveis transformações, mas sempre presente no acolhimento de deliciosas carícias, colocando-se a disposição e com imensa disposição aos gozos mais intensos, assim como, forte e absolutamente resistente aos raros, mas inevitáveis trancos que por vezes, a minha mente, pensou que ele não resistiria, mas resistiu galhardamente.
Delicioso corpo que reconheci que seria apenas meu, assim como de minha inteira e irrestrita responsabilidade dele cuidar, obrigação que em algumas ocasiões negligenciei em função de cuidar de um tudo mais, totalmente desvinculado de mim.
Tola...
Tolices que cometemos em nome de uma infinidade de apelos, além de nós...
Como posso pensar em viver meus dias em outro local, cujo sol não participe deste encontro amoroso com o chuveirão?
Onde poderei despir-me por completo, sem o medo de estar sendo observada?
Onde poderei cantar e dançar sob a água farta e um sol ardente?
Onde poderei fazer amor com a vida, podendo ouvir lindas canções, como as que ouço, nestes instantes gloriosos, sem que nada e nem ninguém possa atrapalhar?
Onde receberei o meu Deus, para exemplificar pra ele, toda a minha felicidade por simplesmente, existir e estar sentindo este delicioso gozo existencial?
Tudo muito simples e autêntico, tal qual, o sol que me aquece e a água que me refresca, tal qual, as deliciosas mangas rosas, que em meu quintal, existem, tal qual, a paz que meticulosamente, resguardo em mim.
Hoje, deixarei o hábito e não me perfumarei, não maquiarei o rosto e rosearei os meus lábios, só para que a incrível vida que generosa brinda comigo em mais esta manhã, possa sentir-me, tal qual, sou, cheirosa e gostosa por natureza.
Abusada que eu sou...
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