Não sei se já aconteceu com você, uma ou em varias ocasiões, mas comigo, com o passar dos anos, foi ficando mais frequente a necessidade visceral de ficar comigo, quieta, calada, longe de tudo e de todos e no meu caso em especial, em meio a qualquer expressão da natureza, tomando um vinho tinto seco e ouvindo lindas canções.
O tempo de permanência é variável, dependendo única e exclusivamente da resposta que minha mente oferecer de descanso ao meu todo de criatura que, pode ser de horas, um ou vários dias.
Sumir do mapa e se necessário, até da cidade, numa fuga consciente, priorizando apenas a mim.
Não se trata de tristeza, sinais de infelicidade, depressão, ou seja, lá o que possa parecer, apenas, um cansaço tão expressivo, que se nada for feito para sana-lo, aí sim, qualquer um desses sintomas, pode se tornar real.
Isso me faz lembrar um patrão que tive em minha juventude que ao vê-lo recostado em sua luxuosa poltrona de executivo, virei-me para sair caladinha, mas ele me impediu de sair de sua sala e até hoje, não compreendi porque, escolheu a mim, uma ainda garota de 23 anos para desabafar seu profundo cansaço existencial.
Confesso que na época, pouco entendi, afinal, ele era poderoso em todos os aspectos e o que não lhe faltavam eram assessores para atuarem a seu serviço, então, pareceu-me na ocasião, um charminho de quem, não tinha nada mais do que reclamar.
Disse-me que o comunicado que havia feito mais cedo sobre sua ida pra fora do país, não era real e que na realidade, iria hospedar-se na fazendo de um amigo, numa cidade vizinha a Brasília e que somente eu e Oswaldo, seu fiel guarda-costas teríamos ciência.
Entregou-me um envelope com um número de telefone, mas que eu só ligasse, no caso de extrema necessidade. Pensei: Quem era eu, para avaliar essa tal necessidade...Só poderia estar louco...
Novamente, não entendi nada, afinal, porque eu fui escolhida para guardar tal segredo, já que era apenas, a coordenadora dos cadernos especiais, havendo na casa, pessoas que além de mais velhas de idade e profissão, eram “safas” em seus cargos de relevância.
Enfim, nada aconteceu e na semana seguinte, lá estava ele, todo garboso adentrando no jornal, parecendo renovado.
Cinquenta anos depois, lembrando deste fato, penso que talvez, ele tenha enxergado em mim, exatamente a leveza de uma apenas, ainda garota, sem máculas e vícios, não só das inerentes consequências da vida, como as adquiridas nos bastidores da profissão. Na realidade, ele deveria estra tão exaurido que simplesmente me elegeu como seus olhos e ouvidos para que atuassem em sua ausência, já que Oswaldo o acompanharia como um fiel cão de guarda.
Por que estou escrevendo sobre isso?
Provavelmente, porque é da natureza humana, achar, num achismo irritante, bobo e ignorante, que por um alguém ter tudo, ele além de não se enfarar, cansar e até mesmo brochar, ainda não tem o direito de desejar estar com ele mesmo, como se estas opções, puramente humanas, fossem pecados capitais.
E por crer nessa premissa absolutamente idiota; “o que os outros irão pensar” ou pior, “quem tocará meus negócios se eu parar” , é que muitos, são parados, em stops repentinos, sem qualquer aviso prévio, se bem, que não foi por falta dos sinais, mais que evidentes.
Culpa, maldita culpa, até mesmo por existir, sempre ela a nos perseguir...
Meu adorável patrão, não os ignorou e conseguiu sobreviver por quase noventa anos...
De repente, sinto saudades do meu vigor daquela época ...
Sacana é o tempo que enferruja as juntas, deforma o corpo e nos deixa brilhantemente lúcidos e ativos, nos fazendo acreditar idiotamente que somos imortais...
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