quarta-feira, 8 de março de 2023

Corpo de Mulher...


Corpo de mulher, brancas colinas, coxas

[brancas,

pareces-te com o mundo na tua atitude de

[entrega.

O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti

e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam os

[pássaros,

e em mim a noite forçava a sua invasão

[poderosa.

Para sobreviver forjei-te como uma arma,

como uma flecha no meu arco, como uma pedra

na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.

Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.

Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!

Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e

[triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.

Minha sede, minha ânsia sem limite, meu

[caminho indeciso!

Escuros regos onde a sede eterna continua,

e a fadiga continua, e a dor infinita.

Pablo Neruda

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vale ouvir e refletir