Chove lá fora, mas aqui, em meio ao aconchego de minha casa, o sol da paz mantém o clima ameno neste amanhecer ao som de violinos, “maestrando” o inverno de Vivaldo com suas modulações fortes e agitadas, até que, em certo momentos eles suavizam e posso sentir as brisas leves adentrarem através da janela, trazendo os aromas do outono com seus peculiares encantos.
Pássaros, aonde estão os pássaros nesta manhã? Assustaram-se como os primeiros acordes nas alturas que abusadamente ouvia, sobrepujando seus cantos matinais?
Perdão amigos fiéis por esquecer-me que o jardim lhes pertence...
Compreendam esta empolgada senhora que não vê sentido em escutar um erudito como Vivaldi se não for nas alturas, afim de sentir-se numa plateia de um grande teatro ou simplesmente caminhando numa pradaria verdejante.
Opto imediatamente para os sons do outono, percebendo que a intensidade e cadencia é extraordinariamente diferente, deixando-me imaginar toda a beleza das cores matizadas de amarelo, vermelho, marrons, deslizarem lentamente, formando no espaço entre as copas e os pés das frondosas árvores, um perfeito bailado que acompanha a orquestra da natureza, até finalmente repousarem, criando um tapete de formas e coloridos únicos que fascinam minhas visões mentais.
Nestas visões eruditas, dispenso qualquer outra companhia que não esteja absolutamente integrada a sensibilidade absoluta que o conjunto harmônico exige.
Enquanto descrevo o que a música é capaz de despertar em mim, percebo que enquanto ouço esta maravilha, nada lá de fora é capaz de interromper esta viagem sensitiva que faço na companhia dos pássaros que, afinal, também se calam em reverência a vida, tão bem descrita pelo gênio musical.
Um sábado outonal de paz no compasso do bailado das folhas que ao cairem, se adubam, numa metamorfose de vida propiciando mais e mais vida, num legado de apenas serem, na mais explicita demonstração da liberdade em tão somente, se transformarem no contínuo melhor de si mesmas.
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