Através dos compassos das quatro estações de Vivaldi, vou tentando organizar esta minha mente agitada, barulhenta e invasiva que como o sabiá, domina os espaços do jardim, numa volúpia alucinada.
Fecho os olhos numa tentativa de poder enxergar um só tema que se destaque entre os demais que insistentes, também querem protagonizar minhas escritas, nesta manhã de finalzinho de um verão absurdamente encalorado e não menos alucinado.
De repente, me dou conta de que minha escolha para ouvir, nada mais foi, que uma indução da própria natureza, parceira constante que também escolhi ainda na infância, para estar sempre muito coladinha em mim, afinal, através da observação, fui percebendo que o verão me tornava mais livre, solta, relaxada e que também, me permitia pisar na grama resistente em seu constante frescor, assim, como sentir as delícias dos respingos das águas do mar de Ipanema ou da cachoeira de Guapimirim, salpicando em meu corpo o mesmo frescor de uma sempre liberdade, levando-me no decorrer dos anos que se seguiram a identificar a chegada e a partida de cada estação, crendo que assim como o verão e o outono, tudo se resumia no dar e receber.
Penso que aprendi a sentir com o outono, uma espécie de renovação, como se cada folha que enxerguei amarela-se e aparentemente morrer das árvores, também morresse de mim, indo repousar aos seus e meus pés, transformando-se em grão de adubo para fortalecer-nos, numa exibição explicita para os meus olhinhos infantis, do resumo de toda a sabedoria do apenas plantar e colher, colóquio divinamente intimo, entre a vida e o universo que residia em mim.
Uma linda e produtiva sexta-feira de um quase outono, onde lhe seja possível, soltar as folhas amareladas para uma apenas, sagrada renovação de vida.
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