Ainda me lembro com nitidez, mesmo já passadas décadas a fio, das muitas madrugadas, onde nem fome e muito menos cansaço me abatiam, pois, com a adrenalina a mil, ouvindo as notas sonoras do deslizares das bobinas da offSet, numa espera passionalmente ansiosa, da mesma cuspir( era assim que falávamos na época), a edição do dia do Diário de Brasília, sempre acompanhada de Ivo Borges, Consuelo e dois ou três outros apaixonados como nós e é claro, da turma da oficina.
Sentir o cheiro e a quentura do papel recém impresso e que fatalmente, sujava as pontas de nossos dedos era o mesmo que tomar a cada madrugada um elixir de novas energias que no meu caso em especial, refletia-se na espontaneidade em me sentir parindo um novo filho.
Maravilhosos tempos, onde me foi possível aprender minhas funções da concepção ao parto, nada ficando pendente, sem aprendizado e eu só tinha, 21/ 22 aninhos.
Isso é que foi estágio, com direito ainda, a alguns momentos de descontração, onde pela rua a fora, seguíamos juntos cantando, rindo e falando besteiras, até um barzinho próximo na W2, cujo proprietário amigo já nos aguardava com a especialidade da casa que era “moela ao molho”, com cervejinhas e guaranás, estupidamente gelados.
Consuelo certamente lembra dos nomes dos companheiros, porque, só consegui registrar os fatos e as emoções, enquanto ela, como placa mãe deste computador que resiste ao tempo, certamente, será capaz de saber os nomes e sobrenomes dos nossos parceiros das madrugadas de uma Brasília bucólica e segura, que infelizmente, só resistiu na memória.
E aí, fico pensando se os nossos estudantes de jornalismo dos tempos atuais, conhecem o cheirinho e a textura de um só caderno impresso, sendo cuspido da máquina, podendo sentir o calor de mais uma paixão que se torna palpável em suas mãos.
Penso então, que mais do que “velhos tempos”, minhas lembranças são resgates de períodos de minha vida, onde exercitei o amor sem limites, a dedicação integral, sentindo e burilando a cada instante, o bendito gozo de apenas, estar vivenciando mais um dia de trabalho de minha juventude e aí, como envelhecer sem tesão?
Reflito neste instante sobre a importância das primeiras vezes em tudo que nos dispomos a realizar e no quanto, são fundamentais na formatação nossa de criatura humana.
Bendito Ivo que me incentivava ensinado, Bendito Roberto que não me privava, Bendita Consuelo, que me acompanhava...
Como não os amar enquanto eu viver?
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