segunda-feira, 15 de maio de 2023

UM TOQUE SUAVE DE DEBUSSY

Estou aqui pensando que por mais que eu tentasse contrariar as minhas necessidades, fosse no que fosse, meu todo de criatura reagiria imediatamente em profunda rejeição.

Claro que como uma sempre menininha birrenta, em muitas ocasiões, tentei como uma mula, mas ou dava com os burros n’água ou desistia antes que o pior acontecesse, como ocorreu agora, que depois de colocar duas músicas de diferentes vertentes, logo percebi que hoje, meus ouvidos e com certeza a minha alma, só aceitam as eruditas, então, coloco Claude Debussy e seu delicado “Arabesque” que desliza suavemente em mim.


E nesse embalo de delicadeza musical, dou continuidade ao meu sentimento de gratidão não religioso, mas absolutamente afetivo ao meu Deus que, além de me propiciar a vida, ainda me presenteou com uma companhia que se encaixou perfeitamente em mim, levando-me a pensar que somos modelagens de uma mesma forma, feitas para se encaixarem sem que fosse preciso qualquer ajuste.

E aí, penso no prazer e na segurança, inenarráveis lembranças que senti ao longo de cinquenta e dois anos em poder ter a meu lado, na cama ou fora dela, aquele homem longe de qualquer perfeição, mas totalmente adequado a mim.

Assim como a melodia de Debussy, ele deslizava em mim e eu nele, até mesmo, quando nossas naturais diferenças ou convencimentos sistêmicos, insistiam em desviarem nossas prioridades um para com o outro.

Dois anos e nove meses se passaram e não só o seu lado da cama continua quente, quanto os meus sentimentos ao escrever sobre ele, lembrando o quanto atravessamos de dificuldades e no quanto, elas nos uniram.

Ao contrário do que meus escritos de lembranças, podem suscitarem em possíveis tristezas, há em cada palavra formulada, um sentido de completude que faz desabrochar em mim, apenas, saudades gostosas que gosto de sentir, pois, enquanto escrevo, sinto-o mais próximo de mim.

E não há nada neste mundo que eu tenha gostado mais, do que tê-lo ao meu lado e creio que ele também, afinal, nada nos prendia, além de nossas necessidades em sentirmos um ao outro.

De certa forma nos fundimos e nem mesmo a morte foi capaz de nos separar.

Por esta razão, depois que ele partiu, não houve um só dia em que eu deixasse de passar o batom que ele tanto gostava, forma que eu encontrei de manter viva a nossa paixão.

Acho que é isso que chamam de eterno amor...

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