terça-feira, 12 de julho de 2022

O HORROR DA BANALIDADE

Cá estou no meu plantão matinal, aguardando a chegada de meus pássaros, afinal, meu viveiro não tem portas e muito menos grades, por aqui, os pássaros que adentram usufruem do meu jardim e se vão, tão logo, estejam desejosos ou necessitados de outras paragens, deixando-me a cada dia, mais lúcida e em paz. 

Penso então, que talvez por esta razão, estejam sempre voltando...


Enquanto espero, penso nas infinitas mudanças em todos os aspectos da vivencia humana de onde estou e do mundo que a minha vida longa me permitiu não só apreciar como viver, sentindo na pele e na mente, mas confesso que jamais percebi as pessoas tão chatas, confusas, medonhamente perigosas, mas acima de tudo vazias.

À vezes, sinto uma enorme apreensão, só em imaginar o que se estará vivendo daqui a uns 10/ 20 anos se não forem freados os impulsos exclusivistas que ora se apresentam a cada instante, mais aterradores.

Penso também que a maioria não percebe e se engaja automaticamente, justo porque não raciocina, não sei se por medo, inércia ou por incapacidade, permanecendo cada qual, como uma arma letal, invadindo o espaço terreno, impondo seus devaneios pessoais, mesmo que seja incentivando os absurdos como um compulsivo voyeur.

Observem o sucesso retumbante dos reality Shows, produzidos em massa de todos os gêneros para um publico cada vez maior na busca da emoção, através das experiências alheias, transformando cada aparelho televisivo, num mecanismo de extravasamento emocional, abrindo as comportas pessoais para a aceitação e banalização do trágico, do hilário e do horrendo. 

Os noticiários e as redes sociais são os espelhos dos horrores que são possíveis de serem encontrados nas mais distantes, pequenas e isoladas cidades, matando silenciosamente a empatia, característica natural da pessoa humana, lógica indiscutível para uma sobrevivência mais adequadamente humana, liberando instintos de uma selvageria assustadora.

As bundas, os pênis, os músculos e as consequentes vaidades e frustrações, abrem espaço para as alucinações mentais ao ponto de não se ter mais a segurança mínima em lugar nenhum, pois, estando de toga, jaleco ou seja o que for que esteja vestindo, afim de caracterizar a sua responsabilidade social, há sempre sorrateiramente travestido, um monstro pronto para atacar, na busca incessante e incontrolável de usurpar o direito só para si, numa constante disputa, cujo premio é o de simplesmente, ganhar.

Portanto, chocarmo-nos faz parte do show, somos uma plateia ávida de emoções e aí, trazemos para a vida real, o que exercitamos no conforto da poltrona, diante de uma telinha qualquer.

Nunca em tempo algum de minha vida, testemunhei tantos horrores perante os céus, assim como tantas Igrejas, presídios e mendigos da miséria humana, como abismada, venho presenciando nos últimos trinta anos.

Dizem que o mundo está perdido...

Digo que nós os racionais nos perdemos a cada instante em que aplaudimos o banal e fingimos horror diante dos absurdos em nome de um politicamente correto, por sermos tão somente, espectadores dos filmes e dos shows de banalidades lúdicas ou reais, tornando-nos cumplices ativos das improbidades de todos os níveis.

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