quarta-feira, 6 de julho de 2022

BONS TEMPOS...

Nesse instante, ouvindo o delicioso piano de Richard Clayderman, volto lá atrás, num tempo de uma espetacular juventude, amparada na bendita segurança do ir e vir e na abusada inconsequência própria desta fase da vida, onde tudo parece definitivo e irremediável, onde a pressa para se vivenciar tudo é o comandante in chefe e é claro, que a minha adorável amiga Consuelo, não poderia ficar fora deste contexto literário, já que juntas, fizemos muitas traquinagens que comparadas com a juventude atual, eram apenas molecagens de duas criaturinhas que não tinham receio em tão somente viverem.


Brasília durante cinco anos, foi o nosso parque de diversões e por ser uma cidade sem grandes opções para os nossos temperamentos inquietos, abria espaço para criarmos nossos próprios brinquedos e um deles, era fazer do eixão Sul, nossa pista de corridas para desespero do meu Roberto.

Eu adorava sentir o vento jogando meus cabelos para trás e ao mesmo tempo, invadindo o meu rosto e descendo pescoço a baixo como se a vida despudorada me beijasse, enquanto você, tremia nas próprias bases, sem saber se ria ou chorava de medo, jurando por todo momento, que não andaria mais no carro comigo.

Como esquecer das madrugadas de nosso cotidiano, quando ao fecharmos a edição, saíamos juntas com os companheiros do jornal, andando pela deserta W2 Sul até o boteco do Marcos para comermos moela ao molho com rodelas de pão que ele, guardava para os esfomeados, sempre chefiados pelo inesquecível Ivo Borges de Lima que me fazia cantar por todo o trajeto.

Gostaria de poder lembrar dos nomes de cada um dos companheiros que cuidavam de nós, como se fôssemos cristais preciosos, mas é claro que você é capaz de relembrar o nome de cada um deles numa precisão incrível, sempre fui desligada...

Tudo tão ingênuo, tão lúdico... Delícia poder lembrar do beijo que dei no policial que de moto me perseguiu e eu, safada, fui parar somente na porta do jornal, pois, sabia que naquele horário, a calçada estaria repleta de funcionários. Ele cometeu o erro de tirar o capacete...Nunca se viu um policial, fugir tão rápido dos aplausos que recebeu e eu, me livrei de mais uma multa. E ele, por sorte minha,

 era lindo!!!

Neste instante, lembro sorrindo...

Inesquecível, foi a decoração linda e caríssima que fizemos na casa do senhor Antonio na W3, lembra que todos nós achávamos estranho que o homem discreto do Telex, tivesse tanto para gastar, mas enfim, ele pediu e nós fomos e no final, ele docemente me entrega a chave e diz que é a casa era pra mim.

Nascia ali, diante de minha recusa respeitosa, uma grande amizade que atravessou décadas até a sua morte no final dos anos 80, já em Belo Horizonte, onde fomos vizinhos de bairro. O caladinho era um dos donos do Jornal que quieto com olhos de águia, acompanhava todo o movimento dos funcionários.

E do Karin Nabut de quem eu morria de medo, mas que me rendeu dois anos de um salário de comissões inesquecíveis. 

E da fazenda que comprei e que não tinha casa e nós, dormíamos na Kombi e fazíamos café no bule esmaltado, num fogão improvisado de pedras.

Ainda lembro do prazer que sentia ao abrirmos a porteira e as seriemas, então, corriam na frente do carro como se fosse um esquadrão de boas vindas e o Dino( pequenez) tão logo, abríamos a porta, corria e se deitava sobre um dos muitos filetes de água que brotavam daquelas terras abençoadas para depois, passar o resto do dia correndo atrás das galinhas.

Lembro das pescarias que na realidade eram desculpas para Roberto e Ivo, beberem todas.

E pensar que trabalhávamos como loucas sem conhecer o cansaço e o desânimo, sempre alegres e prontinhas para grandes aventuras.

Conseguimos até que sua perna fosse engessada para faltar ao seu trabalho na Vasp e depois, a loucura que foi tirar o mesmo com sua perna dentro de um balde, lembra o quanto que rimos daquela traquinagem?

Foi bom lembrar um pouquinho daquele tempo onde firmamos a nossa amizade, numa fraternidade para uma vida inteira.

Te amo minha amiga irmã.

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Sou uma velha de 75 anos que só lamenta não ter tido aos 30/40 a paz e o equilíbrio que desfruto hoje. Sim é verdade que não tenho controle ...