Tudo ainda está escurinho e a chuva leve peneirou lá fora, mas nenhum pássaro ainda chegou, mas eu, cá estou escrevendo entre os goles de um cafezinho pingado, mas confesso, ainda sentindo o gosto da carnuda manga rosa que saboreei me regalando, bem devagarinho durante os sonhos da noite, afinal, nesta época do ano, minha mangueira esta vazia, mas está lá, assim como eu, estou cá, pacientes, esperando o verão chegar.
Enquanto ele não chega, vou saboreando feliz o que o inverno oferece e aí, penso na minha filha que na adolescência, apelidou-me de “Dona Feliz”, não que isso a satisfizesse, afinal, em meio ao turbilhão de hormônios que a confundiam, lhe era impossível compreender uma mãe permanentemente alegre, mesmo quando, as circunstâncias eram difíceis, mesmo ela me aporrinhando dia e noite sem parar.
Esta lembrança e tantas outras que preencheram minha vida, sempre me garantiram que eu jamais seria uma poeta, afinal, diz a lenda que todo poeta precisa ser triste para produzir maravilhas.
Pois é...
Como poeta, sou uma razoável cronista que saboreia mangas gostosas no inverno, mantendo acesa a chama da vida, razão maior da existência humana.
Penso então, que até para comer, precisamos ter atenção, afim de que os deliciosos sabores, permaneçam fiéis as nossas memórias afetivas.
Assim como uma manga rosa, quando desejada e devidamente saboreada, mesmo que em sonhos, faz uma lambança enorme e é, inesquecivelmente deliciosa.
Ensinaram-me a comer também com os sentidos, degustando devagar, devagarinho o tudo de bom...
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