De repente, lá vem novamente a mais longínqua lembrança que ficou registrada em minha mente desde a mais tenra idade, provavelmente entre os quatro e cinco anos, quando dirigindo o meu jipinho do exército, presente de natal, atropelei e matei o pintinho que minha mãe havia comprado na feira.
Meu terror foi tão grande que ao longo de minha vida, volte e meia, esta lembrança volta como se tivesse acontecido ontem e aí, jamais consegui me perdoar por esta inconsequência em matar meu amiguinho.
Fui longe nas recordações para lembrar de outra, afinal, tudo tem um início e escrever também o teve, ainda muito menina, quando era sempre escolhida para recitar poemas nas festinhas escolares, sim, porque eu sempre fui abusadamente aparecida com um microfone nas mãos e, além de decorar poemas épicos e enormes com apenas 8/ 9 anos, ainda os representava nos palquinhos escolares como uma legítima prima dona do teatro brasileiro, afinal, ensaiava exaustivamente, fazendo da escova de cabelo, o meu microfone, por sobre a mesa de jantar, para desespero de minha mãe e os aplausos entusiasmados de meu pai, que simplesmente amava as minhas excentricidades.
Ele se encantava com tudo que eu fazia...
De tão fascinada, sonhei em ser como um dos poetas que interpretava e decidi, afinal, além de exibida eu também, era determinada e inventei um método de pegar as letras das músicas e reescrevê-las, assim, sem me dar conta, fui exercitando a criar novos versos, sem me preocupar necessariamente em dar seguimento aos temas do autor.
Sequer eu poderia imaginar naqueles tempos das descobertas, que ali nascia, mais que uma escritora, uma atriz que escrevia seus próprios textos, interpretando infinitos papeis ao longo da vida, alguns tão realisticamente elaborados que convenceu a mim de uma realidade que jamais me pertenceu.
Mas tudo bem, afinal, quando as cortinas se fechavam, os holofotes se apagavam, lá estava a Regininha, reescrevendo uma nova história...
Só não consegui, fazer reviver o meu pintinho...
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