Penso em Deus, nesta entidade que dizem ser invisível e não palpável, mas que em dado momento adentrou em mim e jamais se afastou e ainda me permite vê-lo a cada instante através de pessoas, flores, frutos, estrelas, sol e chuva, que, incansáveis, supriram meu quase abandono em ser surpreendida, justo por aqueles de quem tanto esperei.
Que Deus compensador é esse que não me deixa um só
instante, fazendo brotar em mim uma constante impulsividade
que muitas vezes foge à razão comum, para em seguida, através
desta mesma impulsividade, saber me fazer pedir perdão, assim
como saber amar.
Percebo então que ele é a minha surpresa cotidiana que se
manifesta como ondas e marolas, como rochas e areias, como
estrelas e como o sol, cantando através dos pássaros, bailando
como borboletas e beija-flores, me presenteando com sua delicada companhia.
E, se não bastasse, ainda tenho preciosas criaturas que me
querem bem e que me ouvem, me abrem portas, me acolhem,
preenchendo qualquer espaço vazio que possa vir a existir.
Penso neste instante que fui e sou uma tola, até mesmo
uma ingrata, afinal, quantas surpresas, infinitos carinhos...
Deus, em sua majestosa grandeza, escolheu-me como sua
morada, tornando os meus instantes absolutamente serenos, até
mesmo quando, intempestivamente, abro as comportas deste meu
temperamento dominador, absolutamente arrogante e autoritário.
Quanta paciência, meu Deus!
E ao invés de castigar-me, pela estupidez de não reconhecer
as cotidianas surpresas que sempre me oferece, envia-me pássaros cantadores, que ao adentrarem rodopiando por toda a sala em
bailados fenomenais, como nesta manhã bendita, num exclusivo
show, fazem-me sorrir de pura felicidade.
Que mais posso querer, meu pai?
Mas eu quero, eu sempre quero mais, gosto de saborear a
vida e o senhor, paciente e generoso, me envia sempre em lindas
e surpreendentes formas o meu muito desejado.
E como eu sou exigente... Só escolho o que há de melhor
da tua encantadora criação, não importando o quanto preciso esperar, não lamentando o preço que eu tenha que pagar.
Sim... Tu cobras para que o bem desejado seja sempre uma
conquista, e não apenas um acaso ou destino.
Trecho de um texto do livro- Percebendo a vida- Regina Carvalho-2021.
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