domingo, 7 de novembro de 2021

TERNURA

O cachorro late agitado na companhia de outros, bem urbano, nada comparado aos latidos suburbanos, quase rurais com os quais me acostumei nos últimos anos de minha vida.

Mas dona Regina, agora também tem latido urbano?


Sim, com certeza, a depender do local, os latidos se alteram adequando-se ao clima e aos hábitos humanos, assim como é possível, conhecer o temperamento do dono de uma casa, através de seu cão.

Então, agora temos a psicologia canina de dona Regina...

Que coisa, viu!!!!

As vezes, repare que tem cão que muito ladra, mas jamais mordeu alguém e outros, quietos e sistemáticos que, traiçoeiros, estranha o desavisado e quando, não morde, com certeza assusta.

A coisa realmente está feia para a senhora, afinal, num domingo de novembro, já tão próximo do Natal, quando então, sua mente deveria estar voltada aos presentes e a ceia, a senhora pensa e escreve sob a inspiração do cão do vizinho, no mínimo é esquisito, mas pensando um pouco, até mesmo Drummond, não escapuliu de colocar um cão na sua poesia e até na sua prosa( O cão viajante- Carlos Drummond de Andrade, no livro “Fala, amendoeira”. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)...

E não foi só ele... Até parece existir uma afinidade entre os cães e os poetas, veja por exemplo o que escreveu Pablo Neruda:

Um cachorro morreu

“Meu cachorro morreu.

Eu o enterrei no jardim

ao lado de uma velha máquina enferrujada.

Algum dia eu me juntarei a ele ali mesmo,

mas agora ele se foi com seu casaco desgrenhado,

suas maneiras ruins e seu nariz frio,

e eu, o materialista, que nunca acreditou

qualquer céu prometido no céu

para qualquer ser humano,

Eu acredito em um paraíso que nunca entrarei.

Sim, eu acredito em um paraíso para todos os dogmas

onde meu cachorro espera por minha chegada

acenando sua cauda em forma de leque na amizade.

Ai, eu não vou falar de tristeza aqui na Terra,

de ter perdido um companheiro

que nunca foi servil. "

”Qualquer um que perdeu um amado animal de estimação pode se relacionar com este clássico poema de Neruda. Aqui o poeta explora a autenticidade e dignidade de seu relacionamento com seu cachorro, que morreu. Embora o poema comece expressando uma distância ou remoção do cão, a intimidade e o amor que Neruda sente pelo animal são revelados enquanto o poema continua. Neruda também explora sua própria mortalidade no poema, discutindo suas próprias opiniões e dúvidas sobre a vida após a morte”. Autor: Jan Roy 

Então, não me apoquente, recriminando os meus escritos e deixe-me escrever sobre os cães, borboletas e beija-flores, pois, a coisa está tão preta que, só mesmo buscando nos amiguinhos, ditos irracionais, aquela bendita racionalidade que comprovadamente, dizem que temos, mas que a cada dia, lá vai se perdendo ou talvez, nunca de verdade tenha existido, tudo não passando de apenas uma miragem a mais, no absurdo egocentrismo do bicho homem.

Mas dona Regina e a “ternura” do título, aonde foi parar?

Com certeza, no meu inconsciente ao lembrar dos meus amiguinhos cães e de seus infinitos momentos de carinho, oferecidos a mim, onde o que não faltou, foi ternura a cada instante. 

E viva o cão urbano do vizinho e a ternura que despertou em mim.!.

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