sexta-feira, 19 de novembro de 2021

ENSINANDO A AMAR...

Acordei pensando em minha mãe e nos lanches das 16 horas, pontual como uma lady inglesa, apesar de ter nascido em Copacabana, ser filha de imigrantes portuguesas e de possuir uma cor de pele morena e um cabelo liso negrinho de causar inveja, principalmente em mim.


Dona Hilda, disciplinada e altamente pontual, todos os dias, fizesse sol ou chuva, arrumava com primor a mesa para o lanche, como se visita esperasse e era, somente para nós duas.

E lá ia eu na padaria, comprar a bisnaga de pão francês que estalava ao ser mordida, recheada com manteiga e queijo de trança que meu pai, não esquecia de trazer de Barra Mansa, nas sextas feiras.

Bom demais, só em lembrar...

Nem me apercebia na época, das muitas lições que um simples e rotineiro lanche da tarde era capaz de moldar em minha mente, ao ponto, de consolidar a simplicidade do belo, do importante e do indispensável, formatando a minha alma, consolidando anteriores ensinamentos que viriam a ser , as margens guias e contentoras de minha vida.

Juntas, rindo e contando histórias, dividíamos a bendita bisnaga com manteiga e queijo, numa rotina somente quebrada com o meu casamento.

O poder da disciplina, da não banalidade da rotina e da extração fantástica do precioso, num apenas lanche da tarde, sem que houvessem discursos de ensinamentos, apenas, exemplos a serem degustados.

Maravilhosa a Dona Hilda no singrar breve de sua vida, no andar elegante, no rosto sereno e sorridente, na discrição de sua figura que por onde passava, chamava a atenção, justo pelo menos, que nela era sempre mais.

Saudades da mãe zelosa, elegante e silenciosa que com apenas seu modo de ser, nos fazia entender, o válido a ser vivido.

Afinal, a cada braçada de seu belo nado em mar aberto, nas águas geladas de Ipanema, mais que o desejo que o medo me cerceava, emblemou em minha mente o senso da liberdade e do pertencimento, às minhas mais autênticas afinidades.

Saudades desta minha Hilda, que soube, apenas sendo ela, poetizar o cotidiano, valorizando o aparente simples, só para me ensinar a amar...

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