Neste amanhecer com o solzinho ainda fraco, mas resistentemente presente no horizonte, saio para dar a minha voltinha pelo quintal e varandas, onde também aproveito para fazer minhas orações, optando em ouvir Beethoven - Moonlight Sonata, pela tranquilidade melódica, tudo que preciso, afinal, irei a Salvador sozinha, o que para muitos pode ser um ato corriqueiro, para mim é uma aventura, já que foram raras as vezes em que precisei andar contando com apenas, minhas perninhas de mulher sempre paparicada.
Todavia, aprendi desde muito pequena que medos são desafios que só são vencidos com o devido enfrentamento, então, lá vou eu...
Bem, comecei esta narrativa para contar do belo e surpreendente encontro que tive com uma enorme pereca no canteiro lateral de minha casa.
Não que seja inédito este tipo de encontro, afinal, moro num brejo, mas fazia tempo que não me encontrava cara a cara com este anfíbio que o meu exagero e preconceito, recusa-se a aceitar tratar-se de um apenas sapo, então, prefiro crer ser uma pererequinha tamanho família.
Nos olhamos profundamente, num estudo mútuo de periculosidade, ela lá, eu cá, mas não nos furtamos ao reconhecimento, enfrentando os naturais receios e aí, segundos depois, seguimos nossos caminhos. Ela embreando-se jardim a dentro e eu, sorrindo, pus-me a descrever o delicioso encontro matinal.
Pois é, parece bobagem, mas me fez lembrar do dia em que, saí andando pelo imenso terreno em Guapimirim, seguindo o meu sempre atrativo barulho das águas, e ao depara-me com aquele fantástico regato de águas límpidas advindas de uma pequena, mas volumosa cachoeira e cercado de grandiosas sambambaias que até então, não havia conhecido naquele tamanho, com folhas maiores que eu, senti temor, mas não recuei e nem sei porquê, apenas fiquei me familiarizando e instintivamente, sentei-me na margem e coloquei meus pezinhos balançando no que viria a ser, meu recanto de estruturação emocional.
Oh! Deus, que encontro!!!
A partir daquele momento, compreendi a importância do controle pessoal, utilizando a prudência, pisando sempre muito devagarinho em tudo que me fosse estranho e que me causasse medo, mas recuar e deixar de avaliar a dimensão do perigo, jamais.
Bendito amanhecer, bendita perereca ou sapo, que me remeteu ao passado e a instintiva reação que a natureza em toda a sua sabedoria me inspirou.
Um lindo dia para você que me lê e que nada o impeça de enxergar e sentir a vida, além de si mesmo, superando receios que inevitavelmente, se tornam medos, aprisionadores cruéis da vida e da liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário