Tenho a impressão que sonhei a noite inteira, mas sei que não, no entanto, acordei e lá estava ele, pululando em minha mente, induzindo-me a levantar para reescrevê-lo com as mesmas emoções que havia sentido ao longo do sono.
Nele, na cozinha da casa de São Gotardo, MG, minha sogra, pacientemente me ensinava a preparar o tradicional bolo natalino que ela chamava de “Tora”, justo por ter o formato de um pedaço robusto de lenha, que consistia em quatro bolos, cada qual de uma cor, que depois de fatiado em tiras, eram dispostas intercaladas em um resistente plástico ou pano úmido; marrom, amarelo, verde, azul e em seguida, eram banhadas com uma generosa camada de baba de moça e assim, faziam-se as demais camadas até que o bolo acabasse.
Em seguida, com o auxílio do plástico e muita habilidade e relativa força, ia-se enrolando como um pão de ló, tudo muito bem apertado, fechado e acondicionado até o dia seguinte na geladeira, quando então, o mesmo era chanfrado nas laterais e disposto numa bela e grande bandeja, como um troféu especial e em seguida, banhado com a mais saborosa calda de chocolate e ornado com nozes.
Toda esta trabalheira tinha um só objetivo, regozijar-me com o brilho dos olhos e, a ávida boquinha de meu filho, Luiz Claudio ao saboreá-lo, afinal, este era o meu e o de meu Roberto, precioso presente de Natal em todos os anos de sua infância.
Nosso tempo, atenção, disposição e o nosso amor, estavam inseridos na execução daquele bolo, geralmente, confeccionado após, um longo dia de trabalho, na véspera de uma noite de Natal.
Penso então, que expressar amor a um filho ainda criança, só depende de pais amorosos, capazes de saírem do lugar comum, transformando o cansaço em estímulo e o shopping com suas mil atrações e brinquedos, numa fatia generosa de atenção palpável, onde estejam inseridos, a textura, os aromas e os sabores da real e intransferível, doação amorosa.
Ainda hoje, meu filho com cinquenta anos, em todos os natais, lembra e me pede para fazer a bendita “Tora” que fortaleceu os nossos vínculos amorosos.
Já não faço mais, afinal, já fiz minha semeadura, agora é hora da colheita....
Ninguém mais tem tempo e disposição, que pena...
Regina Carvalho- 16.01.2024- Itaparica
👇👇👇👇👇👇Versão simplificada no sabor cenoura e chocolate, mas ainda, com a baba de moça em seu recheio.
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