terça-feira, 12 de setembro de 2023

DESACORDO

O vento corta o jardim como se quisesse fatiar os galhos da mangueira, como se quisesse, arrancar com sua força as imensas folhas dos coqueiros, algumas conseguiu, assustando-me.

Ouço Clair de Lune, percebendo pela primeira vez a incompatibilidade dos sons das teclas do piano com o farfalhar de folhas e o zunido forte do vento, nesta tarde ensolarada.

Os pássaros, posso ouvi-los a uma certa distância, fugiram desta fúria repentina de um vento que, poderia ser imaginário, se eu não pudesse além de ouvi-lo, senti-lo atravessando os portais da janela e vindo ao meu encontro, neste pedaço de sala, supostamente protegida, mas absolutamente frágil, neste quase surreal enfrentamento sísmico.

De repente, tal qual, começou, se foi deixando como rastro, folhas caídas por sobre a grama e olhos atônitos como os meus que se refazem lentamente, buscando as teclas do computador, na ânsia de registrar este desacordo inesperado entre o solitário vento vindo de fora e o paraíso de mim mesma...

Regina Carvalho-12´09.2023- Itaparica- 15.03h



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