Acordei nesta manhã sentindo um friozinho que para mim, será sempre estranho sentir na Bahia, mas tudo bem, afinal, o mundo inteiro tem sentido as alterações climáticas, porque haveria de ser diferente neste pedaço de Brasil que tanto amo?
Da sensação de frio, sentida ainda entre as cobertas, minha mente trouxe a luz da razão, uma imagem de minha infância em que eu estava sentada no degrau do portão, apreciando os meus vizinhos irem e virem na calçada, hábito que se tornou rotina e me condicionou a reconhece-las, apenas pelos seus caminhares, hábito que retomei nas infinitas caminhadas na praia de Ponta de Areia.
Isso sempre reforçou em mim a certeza de que somos pessoas auto programáveis, criando ainda jovens, posturas que nos seguem vida afora, por motivações específicas, mas de fundamental importância para nos caracterizar, formando um estilo individualizado.
Bom dia Regina, cinco horas da manhã e você lá vem com suas análises comportamentais...
Desisto e me dou conta que hoje completa sete mil e trezentas vezes que vou apagar a luz do portão, somados ao ato de acender, são quatorze mil e seiscentas vezes que repito este movimento e aí, fico querendo entender porque, nestes 20 anos, jamais me preocupei em colocar um interruptor dentro da casa para que eu não precisasse sair, muitas vezes, debaixo de chuva.
Hábitos que sequer nos damos conta e os incorporamos como parte de nossas vidas, assim como, tantos outros em nossos cotidianos.
Penso que de tanto repeti-los, deixamos de apreciar outras opções e assim, fazemos com o tudo mais, principalmente em se tratando da convivência de todas as ordens, inclusive as amorosas.
Afinal, muitas vezes, o amor se acabou, o tesão desapareceu, o sentido maior da fidelidade se perdeu, mas ainda assim, o hábito em permanecer, persiste com o apoio incondicional de uma mente viciada e de emoções corrompidas.
Pensando no portão e no meu hábito em visita-lo duas vezes ao dia, percorrendo os trinta metros que nos separam, lembro das orações que faço pelo trajeto, das conversas que mantenho com os elementos do jardim e nas infinitas vezes em meus olhos vislumbraram o apenas, belo que me cerca.
Talvez, por pura gratidão, não tenha pensado em mudar este velho e aparente desnecessário hábito.
Será?
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