sexta-feira, 28 de julho de 2023

IMPUNIDADE- CHAGA BRASILEIRA

A chuva deu uma pequena trégua neste amanhecer, liberando os pássaros que já começaram seus cantos para a minha satisfação e então, enquanto os ouço, penso que realmente, ando na contramão, até mesmo, em se tratando de inspirações.

Se para a maioria dos escrevinhadores, as mentes precisam estar em falta de algo, para deixar-se fluir, a minha se fecha como um caracol, afinal, a dor a constrange, a inibe. 

E quando a dor é em relação ao que já elegi como parte do melhor de minha vida, aí, então, é que nada sou capaz de produzir, faltando-me palavras, seja para escrever ou tão somente, falar.

São tantas as denúncias documentadas que venho recebendo diariamente em relação as improbidades desta atual gestão em nossa Itaparica que, de repente, a indignação tomou conta do meu racional ao ponto de fazê-lo estancar de tristeza e dor.


A última, que me foi enviada ontem, refere-se a uma licitação de passagens aéreas nacionais e internacionais no valor de 88 mil reais, numa cidade onde a fome ainda é a matriarca dos desvalidos.

Onde o absorvente higiênico não é entregue com normalidade, onde o abastecimento de remédios é falho em sua dimensão, onde a maioria das ruas são esburacadas e lamacentas, onde o lixo com seus chorumes contamina os lençóis freáticos e as areias das praias e o cidadão, que de tão abandonado, o cidadão se cala de medo ou se corrompe por quase nada.

São tantos e tantos os absurdos que a surrealidade se apresenta como jamais foi vista e aí, fico me perguntando se essa minha premissa é verdadeira ou porque, dantes não havia sido feito o que hoje se faz, que é justo, fiscalizar as contas públicas de forma consistente, ininterrupta e séria.

A cada dia, percebo assustada a dimensão da displicência cumplice da Câmara de vereadores, atribuindo aos anteriores e atuais edis, a responsabilidade por todos os desmandos que ocorreram e não foram poucos e que agora, ocorrem no executivo, sem que houvesse qualquer real freio. 

E aí, entre meus botões e meu senso de lógica, despido da paixão de me sentir o estandarte de qualquer causa libertadora, levo seriamente em consideração a aceitação submissa dos oprimidos e o silêncio e a lentidão da justiça, mensurando com a alma partida, que a impunidade é o prêmio institucionalizado e atavicamente presente como estímulos aos desmandos públicos de todas as ordens.

E aí, penso no poema de Fernando Pessoa,” As cartas de amor são ridículas” comparando-as com as atitudes de alguns considerados idiotas  ridículos como eu, que ainda insistem em escrevê-las, nem que seja através de suas posturas e que mesmo ridículas, representam a bendita resistência que mantém viva a chama do senso de pertencimento e cidadania, demonstração maior de amor ao solo bendito que os abriga.

"Bem me quer, mas por enquanto, está sendo Mal me quer".

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