sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

MANOTEIRA

Pois é...

Este foi o elogio que recebi durante os anos em que convivi com uma das irmãs de meu marido por ela achar que o meu jeito de ser e agir, era muito esquisito para os seus padrões de enrustida assumida e de mal com a vida.

Ela sempre encontrava um meio de fazer críticas, assim como por alguma razão que eu desconhecia, esmerava-se em parecer sempre melhor e mais adequada em tudo. Eu era, digamos, uma coitada...

A priori eu não revidava as agressões travestidas de uma aparência corretiva, todavia, confesso que por dentro sofria.

Dentro de sua forma em conduzir a própria vida, a espontaneidade, a realidade, a franqueza, só apareciam se fossem para como um machado afiado, ceifar o que para ela, não era adequado, nos outros, é claro, até porque, a severa criatura se achava a última bolacha do pote.


Devo, portanto, a esta criaturinha, alguns anos de um enorme complexo de inferioridade até que, em uma certa manhã, depois de banhar sua mãe doente, que vivia comigo já há alguns anos e com quem exercitei o amor, por ser uma linda criatura, com certeza, uma segunda mãe amorosa que atravessou parte da vida me doando amor  até o seu fim terreno; disse-me horrores que escutei sem interrompê-la, até que, em dado instante, pedi licença e a mandei tomar naquele lugar, com a boca deliciosamente livre.

Isso aconteceu numa manhã de 1987 e nunca mais nos falamos, assim como, curei-me do trauma de ter de tolerar uma infeliz.

Por que, estou contando esta passagem de minha vida?

Simplesmente para demonstrar que toda e qualquer pessoa, só é capaz de nos ferir, enquanto, assim permitirmos, afinal, o mal reside nela e não em nós.

Ao longo da vida, a princípio por vergonha induzida de me achar manoteira, sem brilho, algo menor e sem importância, escrevia e escondia, afinal, estaria certo escrever sobre os assuntos que geralmente eram tabus, como higiene íntima, dores emocionais, traições de todos os níveis, infelicidade, desejos secretos, políticos bandidos, Ética, poesias, hipocrisia sistêmica, prostituição e o tudo mais com que se convive?

Pois é...

Cá estou, década depois, abastecida de uma imensa bagagem de amor e conhecimentos que o irmão que ela tanto criticou e desprezou, sempre me incentivou a buscar, além de me oferecer a sua própria, afinal, era um ser humano generoso e sensível, a mais linda e amorosa criatura que conheci e que me adubou para o enfrentamento do difícil e do imponderável.

Não tem havido um só dia nesta minha longa jornada que eu não tenha recebido mimos de todos os lados, agraciada ao andar nas ruas com beijos e abraços que enternecem o meu coração, mesmo não ostentando riquezas e títulos, tendo meu trabalho literário reconhecido com o carinho e o desvê-lo de lindas criaturas que além de minhas manoteirisses ( acabei de criar esta palavra), são capazes de enxergar o quanto gosto da vida e dela escrever sem frescuras e melindres, apenas, retratando-a tal qual, se apresenta.

Orgulhosa, vaidosa e exibida?

Com certeza é assim que me sinto, ainda mais quando, as seis da manhã, sou agraciada com um cesto de mangas rosas, maduras e cheirosas que a minha amiga, irmã e vizinha que carinhosamente, chamo de meu anjo da guarda, generosamente me presenteia, transformando o meu dia, numa confirmação amorosa de que, não devemos alimentar em nós, o desequilíbrio alheio.

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