segunda-feira, 24 de março de 2025

FIEL DA BALANÇA - Refletindo

Quem lê meus escritos, pode até imaginar que sou desligada do convívio com o sistema, já o tendo jogado pro espaço e me voltado para os meus pássaros e borboletas e de certa forma, teria razão, no tocante a minha participação direta no cotidiano.

Todavia, a minha apaixonada dedicação tanto a família de um modo geral, ao trabalho e um tudo mais que sempre me comoveu, exigindo de mim, maior interação, em um certo momento, depois, de já ter perdido, pessoas incríveis que me motivavam, me fez parar e pensar, se já não era a hora de pisar no freio, diminuir o ritmo e pensar um pouco mais em mim, afinal, a vida me era tão bendita que até, esqueci de pensar e cuidar de mim, afinal, nada me faltara em momento algum...


Lá estava a Regininha numa maca fria, esperando o seu momento de finalmente, adentrar numa sala cirúrgica para extirpar um provável câncer intestinal podendo de onde estava, através de uma fresta na porta, ver os meus amores abraçados num consolo mútuo e então, o frio que congelava meu sangue, arrepiando todo o meu corpo, não mais foi sentido e uma sensação de aquecimento amoroso foi se apossando de mim e em instantes, que pareceram horas, o rolo do filme de minha vida, projetou-se em minha mente, e a cada imagem, uma lagrima silenciosa, fosse de alegria ou tristeza, deslizava em meu rosto, inundando-me de uma serenidade, jamais sentida.

Quando, finalmente acordei da anestesia, senti que algo em mim havia mudado ou, mais certo seria dizer, que algo desabrochou das minhas profundezas, insistindo em me afirmar que chegara a hora de egoisticamente, resgatar meus pássaros e borboletas para com eles, voar e voar...

Compreender que a vida continuará sem mim, foi aliviar-me de um enorme e tolo sentimento de culpa.

Abrir espaço para que outros façam pelo menos o que fiz por toda a minha vida, foi uma libertação.

Deixar as pessoas pensarem o que quiserem de mim, com certeza, foi a confirmação íntima dos meus valores.

Compreender na pratica pessoal que o tempo não para e que, em algum momento ela findará pra mim e que, preciso estar plena para então, mesmo a contragosto dela me despedir.

Nesta segunda-feira de sol ameno, penso que quero ainda muito viver, tal qual, tenho vivido, sem amarras e rótulos, sem expectativas e ansiedades, sem medos e necessidades de qualquer espécie, buscando tão somente, o belo, o inusitado que encante meus olhos e perfume a minha alma, fazendo-me sorrir por tudo que seja agradável e fascinante, afim de que eu possa, escrever sobre o amor que me motivou a  fazer, tudo que fiz ao longo da vida, mesmo o que, ainda hoje, possa vir a chocar os mais ortodoxos fingidores. 

Amor sem cartilha pré estabelecida, amor sem preconceitos, amor recoberto de solidariedade embasado no respeito ao diferente, amor amparado na misericordiosa pratica para com os contrários, amor, apenas amor, vibração contagiante que tem faltado na alma humana para que ela, finalmente se humanize.

Estou ouvindo uma seleção de clássicos que relaxa e me permite voos mais serenos, visão mais aguçada, pousos mais suaves, mesmo sabedora estar, este meu paraíso vivencial em meio as constantes batalhas de todas as ordens em sua maioria silenciosas, mas não menos devastadoras nas arenas sejam familiares, profissionais e psíquicas que me cercam ou as que me chegam, através das mídias.

Reconheço que estou feliz e desejo o mesmo para você que pacientemente me lê, lembrando-o que para toda conquista, há de se fazer renúncias, afinal, não se pode ter tudo, ficando o custo benefício, como o fiel da balança das escolhas.

Regina Carvalho- 24.3.2025 Itaparica

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