quinta-feira, 6 de março de 2025

DORMI COMO UMA PATA

Não que eu seja entendida em como dormem as patas, todavia, esta era uma expressão muito usada por minha mãe e sabe como é; ficou gravada em minha mente e vez por outra, a memória traz de volta e com ela, um tempo ingênuo, como nunca mais houve.

Um tempo repleto de diferenças de todos os níveis

Um tempo onde não se disfarçavam as dificuldades

colorindo uma igualdade não existente.

Um tempo do rico e do abastado, do culto e do ignorante, do homem e da mulher...


Um tempo de um ir e vir com liberdade e sem medo.

Um tempo da classe média, do pobre e do miserável sem confetes e serpentinas tentando tampar o sol com a peneira.

Sem isopores e trios elétricos, pano de fundo da pobreza crescente, alimentando os abadás das ostentações.

Um tempo sem tantos ódios aflorados e frustrações incontidas.

As vezes é bom lembrar que já foi diferente, mesmo sendo igual, afinal, tudo parece que mudou e, talvez tenha mudado no quesito alegoria, comissão de frente, adereços e o escambau, mas não nos passos ritmados ou descompassados dos passistas e foliões que buscam como dantes a luz, frente as suas realidades que, hoje, acrescidas com as mais brutais hipocrisias, medos e violências, fora dos limites dos cordões e camarotes, pagam para ficarem protegidos das pipocas, para então, serem induzidos à falsa compreensão de um tudo bem, inexistente.

Os capitães, promotores temporários da alegria ditam as manobras nas naus negreiras de um povo incansavelmente otimista que so deseja ser feliz, nem que seja por breves quatro ou cinco dias, estendendo o percurso a cada ano em tentativas desesperadas de não chegarem aos malditos cais, onde então, a realidade se mostrará sem ídolos e baterias que disfarcem suas mazelas pessoais.

Penso então, que se ainda sou capaz de dormir como uma pata sonhadora, como afirmava minha mãe, também fui capaz de aprender a digerir a mentira, o engodo, a desfaçatez, assim, como a a vergonha de nada poder mudar, usando como antiácidos, meus escritos, alívio viciante, unicamente capaz de disfarçar a dor que a ulcera da falsidade de um sistema político e humano, corrompido e totalmente falido é capaz de me provocar.

E se não bastasse, nem a minha Mangueira com seu samba enredo; “Força vital: Energia agregadora, que move o mundo e as pessoas”, conseguiu envolver e convencer os jurados, perdendo pela sexta vez na grande passarela das ilusões.

 Imagina eu, pata sonhadora...

Regina Carvalho- 6.3.2025 Itaparica

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