E repente, percebo assustada que posso tudo, desde desviar dinheiro público, flagelando milhares de seres humanos, posso fumar maconha, dar uma cheiradinha básica no pozinho da felicidade, transar sem limites e na mesma proporção fazer os abortos necessários, dormir com o marido de minha melhor amiga, pensar e fazer tudo que me vier a cabeça, desde que em público e nos meus escritos e falas, eu seja, a dona certinha com uma narrativa, politicamente correta, mesmo que todos saibam a imensa farsa que represento, afinal, o que interessa na era atual, não é o que você é ou faz, mas o que você exibe.
Puts Grila, e quando é em nome de Deus, ainda fica mais convincente.
Nunca precisei ser tão falsamente polida, tão artificialmente educada, tão abusadamente camuflada para não dizer o que penso e a isto, chamam de liberdade e sociabilidade.
Concluo indagando:
Será por isto que os índices de tudo de ruim, estão alarmantemente aumentando de um dia para o outro, numa escalada de guerra urbana?
Palavra e compromissos assumidos, já não se escreve no quesito confiabilidade e a tal da fidelidade, virou atributo de ocasião.
Não é sem motivos que os CAPS e os CEMITÉRIOS, assim como as PENITENCIÁRIAS disputam lugares nas cidades dantes bucólicas, turísticas ou não, mas lindas e seguras, com suas calçadas e ruas que deixaram de representar o fluxo de gente indo e vindo, para abrirem espaço para os camburões, corpos esfacelados e Zumbis, travestidos de humanas.
Mas se está tudo bem para a maioria, quem sou eu, não é mesmo?
Todavia, refletir não significa estressar-se ou deprimir-se, mas é sempre uma oportunidade de rever as próprias posturas, aliviando-as em benefício de si e do tudo mais, que, querendo nós ou não admitir, pede socorro e nós, lá vamos aos trancos e barrancos, fingindo que sequer notamos que a culpa não é do sistema e sim de cada um de nós, que o determinamos, criando cada qual, um discurso salvador que de tão repetido, tem nos convencido também que somos os “fodas” na sustentabilidade seja lá do que for, apenas, lamentando no circo das convivências, que a vida despenca e morre, inexoravelmente a cada amanhecer.
Regina Carvalho- 27.03.2024 Itaparica
Nenhum comentário:
Postar um comentário