Vários dias tem se passado sem que eu consiga retornar a velha rotina de acordar e quase que imediatamente, começar a escrever.
Por que será, já que não tem me faltado assunto e muito menos inspiração trazida pelos meus pássaros?
Nem mesmo a chegada triunfante das cigarras na tarde de ontem, foi motivo para uma reflexão matinal neste amanhecer.
Que coisa, viu!!!!
Estarei em algum tipo de transição explicita e arrasadora, uma vez que para mim, o ato de amanhecer escrevendo é como se fosse, abrir as janelas de meus pulmões deixando os ares saudáveis, adentrarem sem pressa, oxigenando e estimulando meu corpo desgastado a seguir persistente à minha mente incansável?
Pois é...
De repente, não estará a mente cansada de produzir genéricos dos ansiolíticos poéticos que aliviam as ansiedades dos que me leem, precisando eu também, de umas doses homeopáticas?
Talvez, afinal, se sou pílulas estimuladoras, necessito vez por outra da entrega dos necessários insumos para produzi-las, já que reconhecidamente a tarefa de produzir insumos e ainda adequá-los aos infinitos males do mundo, as vezes cansa e provavelmente, seja isso que esteja acontecendo comigo.
Vai se saber o que se passa na casa do pai, senhor absoluto de mim.
E por falar nisso, ontem li uma discussão entre dois doutores da educação que discordavam sobre a devia utilidade humanitária dos templos religiosos, levando-me emocionada a lembrar dos costumeiros discursos de meu pai que não conseguia compreender as limitações oferecidas aos mesmos em relação ao grotesco cenário de miséria existente em suas portas e que, influenciou-me completamente a duvidar da tão alardeada caridade que expurga de sua pratica e ambientes, o devido acolhimento, aliviando a fome e o abandono, optando em tão somente, estimular a cura da alma e do espírito por meios metafísicos e em momentos pontuais demonstrar caridade e não solidariedade, quiçá fraternidade.
Um corpo faminto terá forças para se reerguer tão somente com palavras e orações?
Um ser vivo de qualquer idade acumulará sanidade em sua mente e alma, quando, jogado pelas sarjetas é justificado como experimento do próprio destino ou provação evolutiva, como pagamento de dívidas passadas?
Que barbaridade é esta que por ignorância da importância da vida, preguiça e reforço de preconceitos atávicos, abraça-se e ainda doa-se dízimos e ofertas como a história da humanidade relata sem panos quentes e que cidades ao redor deste mundo expõe como relíquias, as fortunas encruadas nas paredes das Igrejas e templos, enquanto em suas devidas épocas, seres humanos eram trucidados por estes mesmos benfeitores , adoradores de um Deus que os convinha, na apoteose de suas covardes e cruéis vaidades?
Meu Deus, o que esta absurda loucura tem a ver comigo e meus escritos?
Não sei exatamente, talvez, o meu cansaço em observar que tudo se repete, numa insanidade conveniente aos interesses de quem de alguma forma se beneficia.
Antes de me jogarem pedra, pensem nas guerras, não só as do passado, mas naquelas que ontem, hoje e certamente, amanhã, estarão dizimando vidas, muitas delas em territórios notoriamente bíblicos ou nas calçadas, aqui mesmo, em nossas cidades.
Penso então, num Jesus inconformado e que, tudo e a todos abandonou saindo pelo mundo, em busca de uma libertação pessoal das nódoas sistêmicas, quebrando a hegemonia dos falsos valores, buscando em si, o bendito templo do Deus que ele cria existir e que reconhecia em tudo quanto, podia sentir, tocar e enxergar.
Mas aí, como tudo que o homem toca, imediatamente se materializa em ganhos e poderes, após sua partida terrena, logo surgiram aqueles que embalsamaram suas ideias e constatações, pintando-as de ouro e prata para impressionarem os incautos, imprimindo o temor e a fúria de um pai que ele reconhecera fascinado ser um mestre parceiro, amigo e solidário.
Bom dia, com o Jesus dos pés calçados com a sandália do bom senso e a roupagem da liberdade de quem, fez de seu corpo, mente e alma, a morada de seu pai.
Regina Carvalho- 13.03.2024 Itaparica.
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