quinta-feira, 14 de março de 2024

O DESMONTE DAS CAROCHINHAS

Não houve um só dia que não tenha surgido em meu cotidiano, situação onde qualquer que fosse a carochinha, morresse.

Duramente tentei salvar algumas, assoprando-lhes todas as minhas intenções amorosas que mais pareciam desesperadas tentativas, onde somente eu, via esperanças.

De que me adianta revê-las uma a uma, numa prática sadomasoquista, se nada mais posso fazer a não ser perdoar-me, mas ainda assim, causando-me se não a mesma dor, já que consciente da inutilidade dos meus esforços, posso avaliar sem emoções envolventes, sem, no entanto, deixar de constatar a imensa perda de tempo e energias em propósitos, alguns, natimortos e outros irreversivelmente condenados.

Viver é isto?

Perseguir o desejado, tentar reter o conquistado para depois, limpar as feridas das perdas, numa constante avaliação do custo e benefício? 

Essa é a trilha que levará a mim e outros tantos mais que se cercaram da carochinha, ao vislumbre do paraíso ou será, esta, outra carochinha, afim de consolar e impulsionar corações e mentes tolas a seguirem caminho, ainda apegados a certas esperanças, bálsamos necessários para o não enlouquecimento?

Sinto-me mais real e talvez, por isso, estou assustada com tantas novidades esclarecedoras, mas também saudosa das ilusões das muitas carochinhas que pensei serem palpáveis em minha vida, afinal, elas eram propósitos que hoje, já não me cabe alimentá-los.

Diante de mais esta constatação, percebo que se por um lado, sinto-me aliviada, com menos peso para carregar, por outro, a angustia, busca morada...

Regina Carvalho- 14.03.2024 Itaparica.



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