Ainda me lembro e lá se vai uma vida, onde as recebia e as respondia, mal podendo conter o volume das emoções, que como águas cristalinas dos sentidos, formavam farta cachoeira que desaguava em mim.
A figura do carteiro, surgia como um “trazedor de prazeres” e por ele esperava-se com ansiedade e ao vê-lo, ainda a distância, o coração acelerava, a boca ressecava e as mãos tremiam, quando, na bendita carta, me era possível, tocar.
Saudades das quimeras dos sonhos e ilusões de uma adolescência que foi moldada com a ternura e ingenuidade, numa época, onde o romantismo era a palheta que dispunha as cores dos arco íris, das expectativas, das descobertas.
Nas recebidas, vinham pétalas de minhas flores preferidas e nas respondidas, lá iam páginas com o aroma de meu Miss Dior, preferido.
Como não lembrar das infinitas cartas de amor, pérolas trocadas
de sutilezas, carinho e elegância...
Como não se ver e se sentir moldada e ao mesmo destoante, num depois, que foi se perdendo em meio aos detritos dos valores estilhaçados?
Cartas sobre amores que se eternizaram nas almas daqueles que as trocavam...
E quando chegavam em forma de bilhete, apenas dizendo; eu te amo, o céu mesmo estando nublado, resplandecia em luz, fazendo por um instante, o coração parar, não havendo maior emoção, que só quem viveu, tamanha experiência, é capaz de mensurar, o quanto, se tornaram marcas indolores, mas irremovíveis no caráter e na forma carinhosa de sentir a vida.
Feliz de quem, como eu, trocou cartas de amor...
Regina Carvalho.21.03.2024 Itaparica
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