segunda-feira, 11 de março de 2024

REFLETINDO

A consciência de que não preciso de mais nada, além do tudo que sempre tive, porque me ofereceram ou batalhei para ter e, agora, batalho para mantér, associado a um sentido de gratidão pela compreensão de que a maioria nunca teve sequer a oportunidade para tentar, faz de mim, uma criaturinha feliz, incapaz de pensar em algo que não agregue no mínimo, respeito aos meus relacionamentos.

Lutar pelos direitos que creio serem universais para cada criatura humana e que lamento precisarem de leis para serem cumpridas, na maioria das vezes, mal e porcamente, não tira de mim o respeito que devo ter com os transgressores, novamente lamentando que os mesmos, como defesa de seus crimes humanitários, se tornem agressivos, numa autodefesa injustificável.


O mundo tem mudado através das infinitas adaptações, como se tivesse sido fatiado, mas aí, busco na história da humanidade a dura realidade de que ele sempre foi fatiado em castas, explicitas ou disfarçadas bem ao gosto dos preconceitos que desconsideravam a universalidade do existir.

Vivi tempo suficiente para testemunhar a virada da mesa e posso compreender que se existem atualmente exageros nas proposições, o tempo há de corrigir, adequando a uma nova realidade, todavia, corre-se o risco de não haver tempo hábil, já que o planeta doído e machucado, no CTI se encontra meio moribundo.

Como frear as bactérias do consumismo?

Como estancar a hemorragia das ganâncias?

Como extirpar o tumor cerebral da alienação?

Estarão todos os sobreviventes, condenados há um corpo falido?

Olho através da janela e vejo a luz, ouço os pássaros e sinto os aromas, penso em mim, no café que já degustei e no quanto, este deveria ser um direito de qualquer ser humano sob a face da terra, mas não o é...

Penso nas guerras que a mídia mostra  sem floreios, penso na fome que jamais precisou dela para se impor como déspota cruel, penso nos conflitos urbanos, mas penso principalmente, na indiferença, no exclusivismo, nos corporativismos, nas corrupções desenfreadas e na falta de senso humanitário de quem pratica, de quem apoia e de quem a tudo assiste, sem uma palha mover, por crer não ser de sua conta, sem se aperceber que se tornou um escravo de um sistema sem alma que não escolhe vítimas, tempo e nem espaço.

Penso nesta minha dolorosa constatação que me impede de continuar acreditando que algo será diferente, antes de um colapso sem precedentes.

Fatalismo?

Não, apenas a minha própria impossibilidade de bater tambor pra maluco, safado e inconsequente que só consegue enxergar seu próprio umbigo, nele colocando piercings de ouro, enquanto, seus corpos transitam em meio aos corpos moribundos da miséria de todos os níveis.

Regina Carvalho-10.03.2024 Itaparica

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