sábado, 9 de março de 2024

MISTÉRIOS E ENCANTOS...

Acordei mais que de um sono noturno, mas das trevas de alguns não entendimentos que geralmente, dizemos: A ficha caiu...

Ao longo da minha vida dedicada ao conhecimento de certos comportamentos que percebi serem geradores de infinitos conflitos entre as pessoas, fui também, deixando naturalmente muitas fichas cairem, não sem antes, rasgar-me profundamente neste insano propósito, afinal, de que me adiantaria apenas a superfície das aparências?


O que eu não percebia é que ao buscar razões nos demais, mergulhava em mim e pelo caminho, fui deitando ao chão os meus próprios conflitos, reconhecendo-os nos demais, focos de meu olhar de águia e faro de ursa.

A cada ficha que caía, além das constatações algumas vezes dolorosas, também sentia uma leveza estranha, uma espécie de alívio.

Confesso que resisti em algumas ocasiões, porque como um ser amoroso, também cedi a algumas tentações de uma mente livre e apaixonada e foram essas exceções as mais duras e contundentes lições deste aprendizado que conscientemente, ainda criança não pedi para ser incorporado em mim, mas que por alguma razão, que sempre acreditei ser oriunda da espiritualidade, não rejeitei, nem mesmo em meio ao mais duro aprendizado. 

E aí, hoje, entre os sons dos pássaros lá fora e a Ave Maria de Charles Gounod, divinamente executada em solo e piano, olho para mim e penso, que de alguma forma ainda criança, não resisti e me deixei incorporar por uma espécie de permanente quaresma, onde caminhei por sete décadas, num preparo árduo e continuado, provando mesmo temerosa do fel de minhas escolhas, ações e reações, polindo minhas emoções o máximo possível, afim de estar pronta para então, adentrar numa outra dimensão, só possível de ser enxergada e vivenciada por quem, é capaz de deixar suas próprias fichas caírem. 

Bendita será sempre a vida com seus mistérios e encantos...

Regina Carvalho-09.03.2024 Itaparica

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