quarta-feira, 7 de julho de 2021

Caboclos de Itaparica

Hoje acordei ouvindo a chuva pesada e sentindo um friozinho mais intenso que de costume e é claro, pensei duas vezes para sair da cama, mas a força do hábito é fogo e, não demorou para eu levantar e dar espaço para um outro hábito que é o de deixar a mente livre e os dedos ágeis para dedilharem as suas inspirações.


E aí, abrindo o facebook a primeira imagem que vejo é a dos Caboclos de Itaparica e uma dissertação a respeito das lutas empreendidas pelo povo da cidade na conquista da independência da Bahia e consequentemente do Brasil e como já ocorreu inúmeras vezes em que este episódio vem a  tona, seja nas comemorações, nos artigos ou mesmo nas muitas conversas sobre o assunto, surpreendo-me que todo aquele sentido de pertencimento e automático desvelo por sua terra, imortalizado através de seus líderes, tenha tão somente, ficado como apenas uma história verídica do passado e um símbolo para discursos políticos.

Infelizmente, a garra dos heróis itaparicanos se perdeu em meio a ganância, vaidade e abuso de poder que foi como uma bactéria consumindo o corpo até então forte e robusto da cidade.

Nos vinte anos que aqui me encontro, amando e participando ativamente deste corpo lindo, mas absurdamente fragilizado, qualquer semelhança com o espírito de lutas do passado.

O que vejo é um povo acuado com a necessidade de sobreviver e levado na sua fragilidade a se tornar cego e surdo, idolatrando os contínuos salvadores da pátria que verdadeiramente não levantaram suas espadas em prol de convocar o povo a lutar por um sistema mais justo, que lhes proporcione mais dignidade em seus cotidianos.

Se com quase nada, o cansanção serviu de arma de combate, porque nesta era da comunicação globalizada, liberdade de expressão, voto individual, verbas diversificadas e toda uma parafernália jurídica, os contínuos flagelos impingidos ao povo, só se intensificam sem que haja uma reação protetora da cidade e todos que se auto proclamam isto ou aquilo, permanecem estáticos, numa contínua troca de rostos que se tornam personagens de histórias sem qualquer maior gloria a cada quatro anos?

O lixo, a lama, o esgoto e a falta de perspectivas, assim como as consequentes doenças, fome e violência, continuam como chagas permanentes e incapacitantes, sem esperanças de cura.

Por que meu Deus, por quê?

Foi o brio que nada mais é que o sentimento de honra, dignidade cidadã, valores, amor próprio que se perdeu ao longo destes 198 anos?

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